"Milicianos da ADF mataram 11 civis, cujos corpos ostentam marcas de facão, enquanto outros foram mortos a tiro. É o 'modus operandi' da ADF, armas brancas", disse Christian Munyaderu, coordenador da convenção das organizações não-governamentais locais para o Respeito dos Direitos Humanos (CRDH), por telefone.
"Levaram muitos bens da população local (...) e queimaram várias casas. Ouvimos também falar do desaparecimento de várias pessoas, que provavelmente foram raptadas pelos rebeldes", disse Munyaderu.
O ataque, que teve lugar na cidade de Kosakosa, no território de Irumu, na província de Ituri, surgiu quando as conversações entre grupos rebeldes e o Governo congolês estão a ter lugar em Nairobi sob os auspícios da Comunidade da África Oriental (EAC), à qual a RDCongo aderiu, em março.
Não é claro que grupos estão a participar nestas reuniões, que tiveram início em 22 de abril na capital queniana, na sequência de uma cimeira realizada no dia anterior em Nairobi com quatro dos seis membros da EAC - RDCongo, Burundi, Uganda, Ruanda e Quénia - para discutir a segurança para o novo parceiro.
Um dia após o início destas reuniões, os rebeldes do grupo M23, ativos na província do Kivu Norte, vizinha de Ituri, foram expulsos das conversações devido ao reinício das hostilidades por uma das secções da milícia contra as posições do exército congolês.
A ADF, por outro lado, é um grupo rebelde de origem ugandesa, mas está atualmente sediada no nordeste da RDCongo, perto da fronteira que partilha com o Uganda.
Segundo o Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACDH), a ADF foi responsável por cerca de 1.260 mortes em 2021, tornando-os no grupo armado mais letal da RDCongo.
Desde 1998, o leste da RDCongo tem estado mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e ataques de soldados do exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz das Nações Unidas no país (Monusco), com mais de 14.000 soldados.
De acordo com o Barómetro de Segurança Kivu (KST), a região é um campo de batalha para pelo menos 122 grupos rebeldes.
O Governo congolês impôs um estado de sítio em Ituri e Kivu do Norte em maio de 2021, enquanto os exércitos da RDCongo e do Uganda lançaram uma operação conjunta no final de novembro passado que ainda está em curso, mas a situação no terreno não melhorou.
O chefe da Monusco, Bintou Keita, reconheceu em março deste ano num discurso ao Conselho de Segurança da ONU que, apesar das operações militares, o número de baixas civis e deslocações da população aumentou.
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