"Ninguém na Ucrânia estava a pensar na Eurovisão, apenas em sobreviver"

Hoje, a Ucrânia é apontada como a grande favorita à vitória do Festival Eurovisão da Canção, mas há dois meses "ninguém estava a pensar" na competição. "Pensavam apenas em como sobreviver", contou o comentador Timur Miroshnychenko, que este ano apresenta o festival num 'bunker'.

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Márcia Guímaro Rodrigues
14/05/2022 15:05 ‧ 14/05/2022 por Márcia Guímaro Rodrigues

Mundo

Timur Miroshnychenko

Timur Miroshnychenko, que há 15 anos que é a voz do Festival Eurovisão da Canção e na terça-feira comentou a primeira semifinal do certame a partir de um 'bunker', revelou que, na altura em que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou uma “operação militar na Ucrânia”, ninguém no país pensava no maior concurso de música da Europa, mas sim “apenas em sobreviver”.

“Não acreditámos [numa invasão à Ucrânia] até à manhã de 24 de fevereiro”, começou por afirmar Miroshnychenko, em declarações ao jornal britânico Metro. “Mesmo enquanto as tropas russas estiveram à volta da Ucrânia, durante um par de meses, não acreditámos nisso. Não conseguimos compreender como poderia ser [possível] na Europa do século XXI”.

No dia em que começou a invasão russa, “ninguém na Ucrânia estava a pensar na Eurovisão”, contou. “Pensavam apenas em como sobreviver, como chegar a locais seguros, as nossas famílias e os nossos filhos”

Apesar de os seus filhos pequenos terem sido obrigados a fugir para a Alemanha e de os ver há mais de dois meses, algo que descreve como “a parte mais difícil da guerra”, Miroshnychenko, de 36 anos, não abandonou a Ucrânia. “Tenho de estar aqui, é claro. É o momento mais difícil para o meu país. Não o posso deixar”, frisou.

E agora, devido à resistência ucraniana e ao apoio de todo o mundo, o país tem “oportunidade de participar na Eurovisão e de ter alguns planos para o futuro”. “Podemos até pensar onde acolher a Eurovisão no próximo ano”, considerou.

Sublinhe-se que a Ucrânia é apontada como a grande favorita a vencer a 66.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, cuja final acontece este sábado. O país é um dos com maior sucesso na competição, tendo conseguido apurar-se para 17 finais em 17 participações. Desde que ingressou no concurso, em 2003, chegou ao ‘top 10’ dez vezes e saiu vitorioso duas - em 2004 e 2016. 

À semelhança do que aconteceu durante a primeira semifinal do certame, Miroshnychenko voltará ao ‘bunker’ para relatar o evento às famílias ucranianas. “Devido aos protocolos de segurança, temos de ir para espaços seguros, para os abrigos. Mas como poderíamos nós, se estamos a [transmitir] ao vivo? Foi por isso que decidimos, antes da Eurovisão, criar este estúdio debaixo do solo, num local seguro. Ninguém poderia interromper e nós poderíamos continuar em quaisquer condições”, explicou o apresentador, que revelou ainda que recebeu inúmeras mensagens de pessoas que “também estavam a ver Eurovisão a partir de abrigos anti-bomba”.

“É uma esperança temporária, mas uma nova realidade para o nosso país”, considerou, frisando que uma vitória no festival deste ano seria “um momento muito simbólico”.

Miroshnychenko tem comentado o maior concurso de música do mundo desde 2007. A única exceção aconteceu em 2017, quando se juntou a Oleksandr Skichko e Volodymyr Ostapchu para apresentar o festival que, naquele ano, se realizou em Kyiv, após a vitória de Jamala e ‘1944’ no ano anterior.

Este ano, a organização do Festival Eurovisão da Canção cabe a Itália, que ganhou esse direito após vencer a edição de 2021, nos Países Baixos, com a canção ‘Zitti e Buoni’, interpretada pelos Måneskin. Depois das semifinais, realizadas nas últimas terça e quinta-feira, a final realiza-se hoje.

Leia Também: Afinal, porque é que a Austrália participa na Eurovisão?

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