Estas empresas de energia reuniram-se pelo menos 18 vezes com funcionários da Comissão Europeia, geralmente através de filiais e empresas de lóbi, desde que o executivo da UE publicou em 2018 um plano de ação sobre as regras da chamada taxonomia, de acordo com um relatório que a Greenpeace enviou à agência de notícias Efe.
A taxonomia é um sistema controverso concebido pela Comissão Europeia para distinguir as tecnologias sustentáveis das não sustentáveis quando se trata de orientar futuros investimentos na transição verde da UE.
Após anos de deliberação em vários comités técnicos, o executivo da UE propôs finalmente em dezembro de 2021 que deveriam ser consideradas sustentáveis as centrais nucleares com uma licença de construção antes de 2045 e as centrais de gás que emitem menos de 270 gramas de CO2 por quilowatt hora até 2031 ou menos de 100 gramas durante toda a sua vida útil.
Esta decisão, que ainda pode ser rejeitada pelo Parlamento Europeu, se metade do plenário (353 deputados europeus) se opuser, foi fortemente criticada por plataformas ambientais e por alguns Estados membros como a Dinamarca, Espanha, Áustria e Luxemburgo, alguns dos quais ameaçaram levar a taxonomia ao Tribunal de Justiça da UE.
A França lidera o bloco que defende a energia nuclear, que quase não gera CO2, mas implica outros problemas como a segurança ou os resíduos radioativos, com o apoio de países como a República Checa, Hungria e Finlândia. Já a Alemanha não quer considerar a energia nuclear como um investimento sustentável, mas defende a inclusão do gás.
"As empresas russas de petróleo e gás têm estado subtilmente, mas significativamente, envolvidas na 'pressão' sobre a indústria dos combustíveis fósseis para incluir o gás na taxonomia", afirmou a Greenpeace, que identifica algumas das estratégias utilizadas por estas empresas para reforçar a sua influência em Bruxelas.
A empresa de gás Gazprom, que no registo de transparência da UE não declara ser membro de nenhum grupo, procurou assegurar essa influência através de filiais que são membros de organizações setoriais, como a plataforma Gas Infrastructure Europe, GasNaturally, a plataforma francesa AFIEG28 ou o Brussels Energy Club (BREC), de acordo com a organização não-governamental (ONG) ambiental.
A empresa nuclear russa Rosneft, a que a Greenpeace chama "o braço direito de Putin sobre energia e armas nucleares", tem mantido "laços profundos" há décadas com o grupo francês de eletricidade EDF.
E foi assim que procurou exercer influência em Bruxelas, através desta empresa francesa, mas também através da russo-finlandesa Fennovoima e da Associação Nuclear Mundial, de acordo com a investigação do departamento francês da Greenpeace.
Finalmente, a companhia petrolífera Lukoil foi membro do grupo consultivo e de apoio empresarial da plataforma BusinessEurope da UE até à invasão da Ucrânia e permanece membro da organização FuelsEurope, um dos dois "grandes lobbies que têm trabalhado para incluir o gás na taxonomia", de acordo com a ONG.
"Gazprom, Rosatom e Lukoil fizeram campanha para que o gás e a energia nuclear fossem rotulados como sustentáveis pela UE, reforçando o poder geopolítico de [Vladimir] Putin e tornando a UE mais dependente da energia russa nas próximas décadas", disse uma responsável da Greenpeace, Ariadna Rodrigo, em comunicado.
A taxonomia deverá ser votada nas comissões parlamentares em junho e o texto será apresentado ao Parlamento Europeu na sua totalidade em julho.
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