Buffalo. Suspeito foi ao local em março e foi questionado por segurança
Mensagens recolhidas em redes sociais privadas mostram que Payton Gendron planeou cuidadosamente o ataque, com o objetivo explícito de matar o maior número de pessoas negras possível. Falava nos ataques em dezembro e em março visitou o supermercado em causa, para o estudar.
© Getty Images
Mundo Buffalo
O jovem norte-americano de 18 anos suspeito de matar dez pessoas num supermercado em Buffalo, nos Estados Unidos, numa onda de homicídios com motivação racial, terá planeado outros ataques a mais estabelecimentos e locais predominantemente frequentados por pessoas negras, avança esta terça-feira o jornal Washington Post com base em mensagens que o próprio foi publicando na plataforma Discord.
Payton Gendron terá planeado o ataque ao supermercado Tops, de Buffalo, no estado de Nova Iorque, durante cinco meses: já em dezembro, Gendron comprometeu-se em matar "suplentes" e em levar avante a teoria racista da substituição - uma teoria da conspiração conservadora, veiculada por canais conservadores como a Fox News e por alguns políticos norte-americanos, que afirmam que o aumento de imigração ilegal e o casamento transracial irá diluir a população caucasiana e inclinar o país para a esquerda.
Segundo as mensagens a que o Washington Post teve acesso, Gendron decidiu em fevereiro que estabelecimento iria atacar e, em março, visitou o local para estudar a loja e os corredores. O suspeito foi mesmo confrontado por um segurança, que lhe perguntou o porquê de entrar e sair várias vezes do estabelecimento. Gendron explicou, nas plataformas online, que inventou algumas desculpas e conseguiu escapulir, "por pouco".
Todas as interações de Payton Gendron foram registadas no Discord, uma plataforma de streaming de jogos e conversas que permite aos utilizadores criar grupos privados de trocas de mensagens. O suspeito do atentado racial também utilizou contas na Steam e no Twitch para publicar vídeos e mandar mensagens - o ataque chegou a ser transmitido em direto no Twitch, mas a plataforma identificou o conteúdo violento e suspendeu a conta e o vídeo dois minutos depois de começar.
Gendron foi detido no sábado e as autoridades apontaram para um manifesto racista com centenas de páginas, que o adolescente terá publicado, em que defendia a morte de pessoas negras e a existência de raças inferiores.
Mas o ataque poderia não ter ficado por aqui. Segundo as mensagens recolhidas pelas autoridades, Payton Gendron sugeriu mais ataques, a escolas primárias, a igrejas e a outros locais onde a maioria das pessoas presentes seria negra.
No domingo, o FBI confirmou que Payton Gendron planeou vários ataques, e o diretor da polícia federal norte-americana, citado pela NBC News, não teve dúvidas na classificação das intenções do suspeito. "Quero ser claro: da minha parte, a partir de tudo o que sabemos, este foi um ataque premeditado, um crime de ódio e um ato motivado racialmente por extremismo violento".
Sobre as autoridades, o próprio suspeito terá questionado o aparente desinteresse dos serviços de inteligência nas suas atividades, sugerindo que o próprio FBI queria que Gendron levasse as suas intenções em frente. O FBI admitiu ao Washington Post que desconhecia dos planos do adolescente.
Além das dez mortes, outras três vítimas ficaram feridas na sequência do ataque - sendo que as mensagens elaboram que o suspeito tencionaria matar mais de três dezenas de pessoas negras.
O ataque, à semelhança de outros tiroteios em escolas e locais públicos nos Estados Unidos, motivou uma vaga de apelos para um aumento da segurança e das verificações em torno das armas de fogo - apelos que raramente se tornam em políticas concretas, dada a intransigência dos republicanos conservadores em defender a 2.ª Emenda da Constituição, que prevê o direito à autodefesa.
Nos dias seguintes à morte das dez pessoas, políticos democratas apontaram para a veiculação da teoria racista da substituição por políticos preponderantes no partido republicano, especialmente nos ataques destes à imigração ilegal proveniente da América Latina.
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