Esquerda favorita à vitória presidencial numa Colômbia que exige mudança
Seis candidatos disputam a Presidência da Colômbia no próximo domingo, numas eleições em que a esquerda pode beneficiar da mudança exigida pelo país para chegar pela primeira vez ao poder com Gustavo Petro, favorito em todas as sondagens.
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Mundo Colômbia
Num país cansado da violência do conflito armado, do tráfico de droga e da criminalidade, da corrupção, da pobreza e da desigualdade que alimentaram a contestação popular de 2019 e 2021, Gustavo Petro, candidato da coligação de esquerda Pacto Histórico, senador e ex-presidente da câmara de Bogotá, encontrou terreno fértil para o seu discurso de mudança.
Desde que arrancou a campanha, Petro, um ex-guerrilheiro do M-19 que concorre pela terceira vez à Presidência da República, lidera as intenções de voto nas sondagens, por ser visto como exterior ao 'establishment' político, e, embora até há alguns dias se considerasse quase certo que iria à segunda volta com Federico "Fico" Gutiérrez, da coligação de direita Equipa pela Colômbia, esse cenário já não parece tão claro.
A corrida presidencial sofreu uma viragem de última hora com a subida nas sondagens do engenheiro Rodolfo Hernández, um populista independente que, sem papas na língua contra os corruptos, se aproxima do segundo lugar de Gutiérrez e, portanto, da hipótese de disputar, a 19 de junho, a segunda volta com Petro, que continua a personificar a expectativa mais clara de mudança.
Hernández obteve, além disso, a 20 de maio o apoio da ex-refém da guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) Íngrid Betancourt, a única mulher candidata, que decidiu desistir da corrida presidencial devido aos maus resultados nas sondagens e apoiar o engenheiro, por considerar que "é o único que pode derrubar o sistema" de corrupção.
Resta ver quanto mais subirá Hernández até ao dia das eleições e se realmente pode pôr em causa primeiro Gutiérrez e depois Petro, que dispõe, além disso, do apoio de um setor importante da sociedade que se sente representado pela líder afro-colombiana Francia Márquez, que consigo faz dupla na corrida e é a mais mediática dos candidatos à vice-presidência.
Reformas para prosseguir o crescimento económico e avançar em matéria de direitos, uma polarização sem precedentes no país e descontentamento devido às reivindicações sociais insatisfeitas estão entre os desafios que o próximo chefe de Estado colombiano enfrentará.
Uma conjuntura aliás enquadrada por um desafio que está a agudizar-se: o aumento da violência nos últimos meses e o dilema com que o próximo ocupante do cargo se confrontará, de sentar-se à mesa das negociações com os grupos paramilitares e de guerrilha ou prosseguir a abordagem "paz com legalidade" defendida pelo atual Governo, liderado pelo Presidente cessante Iván Duque (2018-2022).
A isto acresce a pressão para manter o crescimento económico que a Colômbia tem vivido -- de 10,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 -- e a responsabilidade de adotar medidas que garantam a sua continuidade e, ao mesmo tempo, reduzam a curva inflacionária do país.
Gustavo Petro insiste em impor um prazo de validade à indústria petrolífera, através da suspensão dos contratos de exploração, para avançar para "uma economia produtiva, não-extrativista" e fazer uma "transição para as energias limpas", o que assusta os mercados, porque o crude representa cerca de 5% do PIB colombiano e 55% das exportações nacionais.
Num encontro com representantes de empresas norte-americanas, Petro comparou o petróleo e o carvão -- duas indústrias legais -- com a cocaína e disse que "são três venenos", gerando mais controvérsia.
Em contraste, "Fico" Gutiérrez, ex-presidente da câmara de Medellín, assenta o seu discurso na "defesa da democracia e das liberdades", entre as quais a de iniciativa, o que o torna o favorito dos grupos económicos, e Rodolfo Hernández insiste na aposta no combate à corrupção.
Mais de 39 milhões de colombianos são chamados às urnas para votar nos 12.263 postos instalados em todo o país pela Comissão Recenseadora, e há também 1.343 mesas de voto distribuídas por 250 postos de votação em 67 países, para que os 972.764 cidadãos colombianos registados no estrangeiro possam votar.
A votação no exterior começou na segunda-feira e termina no domingo, nas embaixadas e consulados.
O sistema de contagem dos votos na Colômbia costuma ser bastante rápido, pelo que os primeiros resultados são esperados poucas horas após o fecho das urnas, que abrem às 08:00 e encerram às 16:00 (14:00 - 22:00 em Lisboa).
O boletim de voto inclui uma quadrícula para o voto em branco, que tem vindo a aumentar nas últimas eleições e que, em caso de constituir a maioria dos votos válidos na primeira volta, segundo a Constituição, fará com que se "repita uma só vez a votação", à qual "não poderão concorrer os mesmos candidatos".
Um fator fundamental nestas eleições será a abstenção. Em 2018, quase metade da população, cerca de 47% dos colombianos, decidiu não ir votar, ao passo que no referendo sobre a paz, em 2016, a abstenção foi de 62% e foi uma das chaves para a vitória do 'não' ao acordo com as FARC.
Este ano, a primeira volta das presidenciais decorre a 29 de maio, véspera de um feriado nacional, o que poderá influenciar a taxa de participação.
Tal como fez nas eleições legislativas de 13 de março deste ano, pela primeira vez numas presidenciais, a União Europeia (UE) enviará uma missão de observação com uma centena de pessoas.
A Organização de Estados Americanos (OEA) também destacará para todo o país 87 observadores e a organização não-governamental Missão de Observação Eleitoral (MOE) também terá uma missão de acompanhamento do escrutínio.
Uma das questões em análise será o normal decurso da contabilização dos votos, depois de na pré-contagem das legislativas terem sido incorretamente contabilizados dezenas de milhares de votos da coligação de esquerda Pacto Histórico, liderada por Gustavo Petro, o que foi depois retificado no escrutínio oficial.
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