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Tanya é trans, rohingya e refugiada. A discriminação em várias frentes

A jovem, de 22 anos, começou a trabalhar num salão depois de fugir de Myanmar e sonha em ter o seu e estabelecimento, para o qual só quer contratar pessoas transgénero.

Tanya é trans, rohingya e refugiada. A discriminação em várias frentes
Notícias ao Minuto

10:21 - 01/06/22 por Notícias ao Minuto

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Ao longo de 22 anos, Tanya tem vindo a enfrentar discriminação em várias frentes. É transgénero e refugiada, vive num campo para rohingyas há cinco anos, altura em que foi obrigada, juntamente com a família, a sair do país, assim como cerca de 750 mil pessoas que fazem parte deste grupo étnico.

A jovem começou por oferecer os seus serviços no campo de refugiados. "Há mais hijra [pessoas que são consideradas como tendo um terceiro género] nos campos do que aquelas que vemos. A maioria está com medo de se assumir", confessa à agência France Press (AFP), que dá conta que a jovem é uma das 300 pessoas transgénero que "são frequentemente sujeitas a discriminação, insultos e agressões físicas por parte dos membros desta comunidade". 

Mas a discriminação que enfrenta não é de agora - os abusos e violência vieram consigo quando fugiu de Myanmar. "Desde muito nova que gostava de me aperaltar e maquilhar como as raparigas. A minha família não gostava. Os meus irmãos costumavam bater-me. Tinham vergonha de mim", conta à AFP.

"Diziam que eu era uma maldição do diabo e que era um castigo de Alá", acrescenta.

Ainda que a jovem seja das poucas pessoas que traz alguns rendimentos para a família, com quem vive, ainda não foi aceite. A irmã mais nova de Tanya confessa à agência que ainda tem esperanças de que esta "volte a ser" o seu "irmão mais velho". "Quando está na rua, as pessoas riem-se. Às vezes seguem-na até à porta de casa e ridicularizam-na", explica Gul Bahar, referindo-se a Tanya pelo seu antigo nome e utilizando pronomes masculinos.

Apesar de ter começado a pintar cabelos e arranjar sobrancelhas dentro do campo, a jovem foi contratada por um empresário e agora trabalha num estabelecimento numa zona turística do Bangladesh. Para o futuro, Tanya sonha abrir o seu salão, para o qual só quer contratar pessoas transgénero. "Sonho com o dia em que ninguém aqui vai pensar se tenho um corpo de mulher ou homem", desabafa.

Apesar da falta de apoio da família e das perseguições levadas a cabo pelos membros mais conservadores do grupo muçulmano, as suas clientes não deixam de elogiar o seu trabalho. É "a melhor esteticista do distrito inteiro", garante uma delas. "As pessoas vêm de todas as partes da região para ser maquilhadas e arranjadas por ela", afirma Salma Akter. Ainda assim, a cliente acrescenta: "Ela é uma hijra, mas muito competente".

De acordo com uma das mulheres que trabalha com pessoas transgénero rohingya no Bangladesh, há casos de violência registados. "Há muitos registos de transgéneros rohingya que são gravemente agredidos fisicamente e deixados nas ruas em poças de sangue", relata Dil Afrose Chaity. A responsável contou ainda que, durante a fase inicial da pandemia de Covid-19, uma das pessoas transgénero foi agredida por usar o cabelo comprido. "Eram acusados de transportar o coronavírus para o campo nos seus cabelos", rematou.

O Tribunal de Haia está a investigar a violência contra este grupo étnico muçulmano. Cerca de 750 mil pessoas já terão sido obrigadas a fugir de Myanmar, desde 2017.

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