Jornais destacam "regresso da esquerda" e "desaire grave" para Macron
Os jornais franceses destacam hoje o "regresso em força da esquerda" após a primeira volta das eleições legislativas e falam num "desaire grave" para Macron, que o coloca a caminho de uma "maioria apertada".
© Reuters
Mundo França/Eleições
No dia a seguir à primeira volta das eleições legislativas francesas -- em que a coligação de Macron ficou em primeiro lugar, com 25,75%, seguida de perto pela coligação de esquerda NUPES, com 25,66% -- o jornal conservador "Le Figaro" puxa para a manchete o título "Macron a caminho de uma maioria apertada".
No editorial, o jornalista Alexis Brézet alerta que os resultados de domingo à noite constituem um "desaire grave" para Macron, que, caso se veja privado de uma maioria absoluta no parlamento, dificilmente conseguirá levar a cabo o "impulso reformador" que pretende.
"Nunca um partido presidencial tinha registado um resultado tão fraco. (...) Pela primeira vez, assistimos a um fenómeno de recuo da força que está instalada no palácio do Eliseu. Seria abusivo falar de voto de sanção, mas, no mínimo dos mínimos, os franceses quiseram dar uma lição a Emmanuel Macron", lê-se no jornal.
O diário católico "La Croix" também fala em "maioria presidencial abanada" e partilha a constatação do "Figaro": "a primeira volta das legislativas representa uma derrota para o campo do Presidente da República".
"A dinâmica perdeu-se. O mecanismo da Quinta República que fazia com que, de maneira quase automática, os eleitores dessem uma maioria legislativa confortável ao Presidente eleito, enferrujou", refere o jornal.
O "La Croix" atribui como principal motivo para o desaire eleitoral de Macron o facto de o próprio Presidente ter querido "anestesiar a campanha" para a primeira volta, "contando com as fraquezas dos seus adversários".
Foi uma aposta falhada, segundo o jornal, tanto mais que, além do resultado da NUPES, a União Nacional de Marine Le Pen também conseguiu "bater recordes", com 18,68% dos votos, registando uma "forte progressão em vários territórios" que lhe dá a possibilidade de eleger entre 10 e 45 deputados, quando até agora só tinha oito.
A versão digital do "Le Monde" - que só é publicado em papel à tarde - também converge quanto à ideia de que a maioria de Macron está "ameaçada", mas considera que, apesar de a NUPES ter "marcado pontos na primeira volta das legislativas, tem agora de enfrentar o risco de uma frente 'anti-Mélenchon'".
"A palavra de ordem da campanha da NUPES - 'Mélenchon a primeiro-ministro' - foi um dos principais motores que motivou o voto em candidatos de esquerda. Esta personalização das legislativas foi vista por muitos eleitores como a possibilidade de ganhar a 'terceira volta' das presidenciais e impor uma coabitação a Emmanuel Macron. Mas é também um argumento de peso para a maioria presidencial, que não para de enumerar os riscos que uma tal situação, no seu ponto de vista, acarretaria", refere o jornal.
Com a segunda volta das legislativas marcada para o próximo domingo, o jornal popular "Aujourd'hui en France" puxa para a manchete o título "Macron: uma semana para alcançar a maioria absoluta".
Este jornal considera que a semana de campanha que hoje se inicia será "sem misericórdia", mas mostra-se cético quanto à possibilidade de a coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) conseguir "impor uma coabitação a Emmanuel Macron".
"Jean-Luc Mélenchon pode estar satisfeito com o avanço da NUPES (...), mas faltam-lhe reservas de votos para a segunda volta. Hoje, a esquerda, mesmo unida, já só representa um quarto dos eleitores, enquanto que já ganhou três eleições presidenciais na Quinta República. A 'esquerda total' está mesmo em recuo relativamente a 2017", lembra o jornal.
O "Libération", de esquerda, concorda que Mélenchon "tem poucas reservas de votos", mas diz que o tribuno da esquerda radical pode ir buscá-los à abstenção, que bateu um recorde histórico no domingo, com 52,8% das pessoas a decidirem não ir às urnas.
Na manchete, o "Libération" fala mesmo em "regresso em força da esquerda" e, apesar de reconhecer que a possibilidade de Mélenchon se tornar primeiro-ministro é remota, diz que "a maioria absoluta vai ser difícil de obter" para a coligação presidencial.
"Os 'macronistas' vão ter de puxar os cordões até à segunda volta. Os 314 deputados eleitos em 2017 pela República em Marcha são agora um sonho longínquo: desta vez, o partido presidencial vai ter de lidar com os seus aliados do Modem ou do novo partido Horizontes, de Édouard Philippe, e deverá talvez mesmo negociar com outros parceiros para votar projetos de lei. É o suficiente para Elisabeth Borne passar uma temporada caótica em Matignon", vaticina o jornal.
O jornal comunista "L'Humanité" é mais otimista quanto às possibilidades da coligação de esquerda e, numa capa onde aparecem militantes da NUPES com os dedos em forma de V de vitória, lê-se "Primeira vitória para a esquerda", que poderia "baralhar as cartas ao mandato presidencial que agora começa".
O "L'Humanité" considera que a NUPES conseguiu "impor-se face a Macron" e, apesar de reconhecer que "pode parecer difícil" a coligação de esquerda obter uma maioria absoluta, ainda "nada está perdido".
De acordo com os resultados finais divulgados esta noite, a coligação Ensemble!, de Emmanuel Macron, obteve 5.857.557 votos (25,75%), seguida de perto pela coligação de esquerda Nova União Popular Ecologista e Social (Nupes), com 5.836.116 votos (25,66%). Significa que apenas 21.441 votos separam as duas coligações, nas eleições de domingo.
Segundo os dados do Ministério do Interior de França, em terceiro lugar ficou a União Nacional, de Marine Le Pen, extrema-direita, com 4.248.600 votos (18,68%).
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