"As autoridades intensificaram as suas táticas repressivas com uma nova onda de detenções no período que antecedeu as eleições (em novembro passado) e, desde 28 de maio de 2021, detiveram mais de 30 pessoas apenas por exercerem os seus direitos humanos", disse AI num relatório hoje publicado por ocasião do Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura, que se realiza no domingo.
No documento, a organização não governamental (ONG) lembrou que a Nicarágua está afundada numa "grave crise de direitos humanos" há cerca de quatro anos, quando milhares de nicaraguenses protestaram contra as controversas reformas da Segurança Social.
"O governo Ortega respondeu com uma onda de repressão e medidas sem precedentes, que continuam até hoje, contra os dissidentes", adiantou a ONG.
De acordo com AI, desde então, mais 100.000 nicaraguenses "fugiram do país", enquanto dezenas de defensores e ativistas de direitos humanos, além de jornalistas, "foram ameaçados, presos, torturados e, nalguns casos desapareceram".
"Pessoas que defenderam os direitos humanos foram criminalizadas e detidas de forma arbitrária, e algumas permaneceram detidas no final do ano", observou.
A AI apontou ainda que as mulheres defensoras pelos direitos humanos naquele país das Caraíbas "sofreram assédio policial, criminalização, campanhas de difamação e ameaças", por parte das autoridades e simpatizantes sandinistas.
Também sustentou que "as prisões continuaram a fazer parte da estratégia de repressão do governo".
Em dezembro, organizações locais informaram que 160 pessoas detidas apenas por exercerem os seus direitos desde o início dos protestos de 2018 permaneciam na prisão.
Nesse sentido, a AI acolheu as queixas dos familiares dos chamados "presos políticos", que se lamentaram de que as autoridades nicaraguenses não lhes permitem ver os seus parentes regularmente.
"Organizações de direitos das mulheres relataram que algumas das mulheres detidas durante o ano foram presas de forma violenta, às vezes na frente dos seus filhos, e estavam a ser mantidas em condições muito precárias", segundo o relatório.
Em abril 2018, milhares de nicaraguenses protestaram contra as controversas reformas da Segurança Social.
As manifestações, descritas pelo Executivo de Daniel Ortega como uma tentativa de golpe de Estado, deixaram pelo menos 355 mortos, de acordo com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), embora organizações locais elevem o número para 684 e o Governo reconheça 200.
A crise agravou-se após as polémicas eleições gerais de 07 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, quarto consecutivo e segundo em conjunto com a sua mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente, com os seus principais opositores na prisão.