Missão da ONU reconhece possibilidade de existirem valas comuns na Líbia
Até ao momento, as autoridades líbias recuperaram já 247 corpos em locais de enterro em massa e indivíduos na área de Tarhouna, na Líbia Ocidental.
© Reuters
Mundo Líbia
Uma missão da Organização das Nações Unidas (ONU) na Líbia adiantou esta segunda-feira que existem "prováveis valas comuns" ainda por investigar no país. Segundo a Reuters, os números podem ascender até uma centena, numa cidade onde centenas de corpos já foram encontrados - o que levou as autoridades a intensificarem as buscas.
O relatório, a ser apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU esta semana, detalha como uma milícia dirigida por sete irmãos executou e aprisionou centenas de pessoas entre 2016 e 2020 - por vezes mantendo-as em minúsculas estruturas semelhantes a fornos que foram incendiadas durante os interrogatórios.
As provas recolhidas pela referida missão independente da ONU em Tarhouna, que comprovam a existência de raptos, assassinatos e episódios de tortura, dão assim conta de um dos exemplos mais flagrantes de violações dos Direitos Humanos desde a destituição de Muammar Kaddafi, em 2011. Entre as vítimas encontravam-se mulheres, crianças e pessoas com deficiência.
Com base nos testemunhos dos residentes e em duas visitas ao local, esta missão da ONU diz assim, neste relatório, ter encontrado "motivos razoáveis" para concluir que a milícia Kaniyat cometeu crimes contra a Humanidade - tendo ainda identificado quatro comandantes que terão participado ativamente nos mesmos.
Até ao momento, as autoridades líbias recuperaram já 247 corpos em locais de enterro em massa e individuais na área de Tarhouna, na Líbia Ocidental. Muitos dos corpos estavam ainda algemados e de olhos vendados. "De acordo com o conhecimento interno, pode ainda haver até 100 valas comuns ainda por descobrir", dá ainda conta o documento.
Nas suas conclusões, a ONU pede às autoridades líbias para que continuem a procurar as sepulturas - instando-as ainda a criar um tribunal especial para julgar os crimes internacionais.
No entanto, o relatório refere-se a dificuldades de cooperação no passado. Diplomatas e fontes da ONU disseram à Reuters que a Líbia tinha no passado manifestado reservas quanto à continuação da missão, que expira este mês. Porém, foi já submetida uma resolução que pretende manter a investigação em curso por mais nove meses, devendo uma decisão a este propósito ser conhecida esta semana.
A certa altura, as atividades da milícia Kaniyat estiveram alinhadas com a administração de Tripoli - embora, mais tarde, a mesma se tenha aliado ao Exército Nacional Líbio Oriental, liderado pelo comandante Khalifa Haftar e que tentou, sem sucesso, derrubar o Governo do Acordo Nacional. Não se sabe, portanto, de que modo estas investigações podem vir a implicar os governantes nacionais.
Neste momento, a milícia não tem qualquer autoridade em Tarhouna.
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