A detenção arbitrária de civis tornou-se uma prática "generalizada" em partes da Ucrânia detidas pelos militares e grupos armados afiliados da Rússia, revelou esta terça-feira a responsável da Organização das Nações Unidas (ONU) pela pasta dos Direitos Humanos, citada pela Reuters.
Segundo Michelle Bachelet, existem já 270 casos documentados neste âmbito, tendo a organização já delineado planos para impulsionar a monitorização desta realidade no país.
As conclusões surgem na sequência de visitas ao terreno e de entrevistas realizadas a mais de 500 vítimas e testemunhas de violações dos Direitos Humanos, tendo ainda na sua base outras fontes de dados, segundo apontou a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos perante o Conselho de Direitos Humanos.
"Apesar das restrições de acesso, documentámos 270 casos de detenção arbitrária e de desaparecimento forçado. Oito das vítimas foram encontradas mortas", disse Bachelet, na sua mais recente atualização sobre a situação na Ucrânia.
Num discurso proferido na mesma sessão, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Emine Dzhaparova, acusou a Rússia de raptos numa escala "massiva" - exemplificando com o caso do rapto do autarca de Kherson, Ihor Kolykhayev, apelando de seguida à sua libertação imediata e incondicional.
Já o enviado russo disse, por sua vez, que este relatório da ONU - que dá conta da ocorrência de detenções generalizadas nas áreas atualmente controladas pelas forças russas e separatistas - faz parte de uma campanha de desinformação contra o seu país, destinada a "encobrir os crimes do regime de Kyiv".
Michelle Bachelet explicou ainda que o gabinete dos Direitos Humanos da ONU, que tem mantido a sua presença em território ucraniano desde 2014, ainda não teve acesso ao território ocupado pelas Forças Armadas russas. Porém, a mesma fonte garantiu que o seu gabinete está já a aumentar a presença no país.
Um porta-voz deste gabinete acrescentou ainda que o plano passa por aumentar a equipa de monitorização na Ucrânia para um total de 80 pessoas - sendo que, neste momento, a mesma é composta por apenas 55 membros. No entanto, não foi definido ainda qualquer prazo para o efeito.
Até agora, a ONU documentou já um total de 4.889 mortes de civis, segundo os números mais recentes divulgados por Bachelet, que sublinha que os números reais são "provavelmente" bem mais elevados.
A mesma fonte disse ainda que o elevado número de baixas civis e a escala de destruição suscitam "preocupações significativas" de que os ataques conduzidos pelas forças armadas russas não estão a cumprir o Direito Humanitário Internacional. No entanto, a Alta Comissária dá conta da existência de evidências de que os militares ucranianos também parecem estar envolvidos em violações semelhantes nas partes orientais do país - ainda que numa "escala muito inferior".
De recordar que, neste momento, a Rússia tem concentrado as suas investidas militares, especialmente, nas regiões de Donetsk e Lugansk, que declararam a sua independência face à Ucrânia já em 2014. Isto, claro está, com o objetivo de conquistar integralmente a região do Donbass.
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