Noiva de Jamal Khashoggi critica Biden por ir reunir com herdeiro saudita
Hatice Cengiz, que esteve noiva do assassinado jornalista saudita Jamal Khashoggi, considerou a decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, ir visitar a Arábia Saudita como "dolorosa" e acusou-o de recuar da promessa de dar prioridade aos direitos humanos.
© MOHAMMED AL-SHAIKH/AFP via Getty Images
Mundo Jamal Khashoggi
Durante uma entrevista à Associated Press, em Istambul, um dia antes de Biden viajar para a Arábia Saudita, onde se vai reunir com o príncipe herdeiro, Cengiz disse que Biden deveria pressionar a Arábia Saudita -- país que descreveu como "um aliado terrível" -- para seguir uma agenda de direitos humanos.
E também quer mais respostas dos dirigentes sauditas sobre o que aconteceu aos restos mortais de Khashoggi.
O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman desde há muito que nega qualquer envolvimento ou conhecimento do assassínio de Khashoggi, que foi feito no consulado saudita em Istambul, por agentes que trabalhavam para o herdeiro ao trono saudita.
Um relatório dos serviços de informações dos EUA, que Biden divulgou depois de chegar à presidência, sustentou que o assassínio de Khashoggi não poderia ter ocorrido sem o conhecimento de Mohammed.
Cengiz tinha ido com Khashoggi ao consulado para este obter documentação que precisava para casar com ela. Enquanto esperava no exterior, ele entrou -- e nunca mais apareceu.
"Destruíram a minha vida. E não quero recordar qualquer momento desse dia", disse Cengiz na quinta-feira.
Na altura do seu assassínio, Khashoggi residia nos EUA e era colunista do The Washington Post, onde assinou artigos críticos da repressão alargada de ativistas por parte do príncipe herdeiro.
Antes, ocupou posições no governo saudita, mas tornou-se crítico do mesmo, quando Mohamed estava a ser elogiado nas capitais ocidentais por promover reformas sociais no reino.
O assassínio, em outubro de 2018, e as tentativas de o cobrir suscitaram a condenação internacional e a reputação de Mohamed nunca mais recuperou.
Contudo, o príncipe herdeiro conseguiu atrair grandes investidores ocidentais que tinham evitado o reino depois do assassínio. E também conseguiu restabelecer os laços com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para o que contribuiu a necessidade deste de dinheiro para animar a economia turca.
O reino apontou algumas pessoas como culpadas pela operação que matou Khashoggi, mas nenhum dirigente ou responsável pela supervisão da operação foi condenado.
Biden chegou à Casa Branca com fortes críticas ao príncipe herdeiro e inverteu a relação próxima cultivada por Donald Trump. Durante a campanha eleitoral para a Presidência, Biden disse que acreditava que Khashoggi tinha sido morto às ordens de Mohamed e descrevia o reino como "pária".
Ao comentar a reaproximação de Biden aos sauditas, Cengiz considerou-a "um grande recuo". "É dolorosa e desapontadora. E Biden vai perder autoridade moral ao colocar o petróleo e a conveniência acima dos princípios e valores", acrescentou.
Os preços do petróleo estão a subir acentuadamente desde há meses, mas aumentaram ainda mais desde a invasão russa na Ucrânia. Os preços da energia, a inflação e a economia estão no pensamento dos eleitores norte-americanos quando se preparam para eleições legislativas em novembro.
Membros do Partido Democrático de Biden instaram-no a incluir os direitos humanos nas discussões com Mohamed, durante a reunião de sexta-feira, apesar de reconhecerem que os sauditas são um importante aliado dos EUA e produtor petrolífero.
Durante uma conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro israelita, Yair Lapid, Biden disse: "Eu falo sempre de direitos humanos" nestes encontros. E acrescentou: "A minha posição sobre (o assassínio) de Khashoggi tem sido muito clara. Se alguém não a percebe é porque tem andado por fora".
Biden disse que o propósito da sua viagem à Arábia Saudita era "largo" e concebido para "reafirmar" a influência dos EUA no Médio Oriente. Está prevista a sua participação na cimeira do Conselho de Cooperação do Golfo, que inclui vários Estados árabes.
Cengiz expressou um profundo desapontamento com a posição de Biden.
"Uma das promessas de Biden é que ia ser diferente. Foi uma grande esperança para mim e acreditei que Biden iria fazer alguma coisa por mim e por Jamal", mas, "agora, em vez de ser diferente está a fazer o mesmo e a abraçar ditadores na região. É muito desapontador para mim".
Cengiz acentuou ainda: "Ele tem de perguntar o que aconteceu ao corpo? Onde está o corpo? Ainda não temos qualquer resposta. E as pessoas precisam de obter a verdade. Não podemos esquecer".
E repetiu: "Não podemos esquecer o que aconteceu a Jamal".
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