Crise energética continua, mas "mais gerível" com fornecimento de gás
A crise energética "não acabou" com o regresso do fornecimento de gás por parte da Rússia através do Nordstream 1, mas é agora "mais gerível", afirma o especialista alemão em energia Casimir Lorenz.
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O gasoduto Nordstream 1, que liga a Rússia à Alemanha, retomou o funcionamento hoje depois de dez dias de manutenção, mas a apenas 40% da sua capacidade de abastecimento.
"Se continuarmos a receber a quantidade que está a fluir atualmente, que é de facto a um nível baixo, teremos potencialmente gás suficiente. Mas teremos potencialmente gás suficiente apenas porque estão em andamento reduções [de consumo] por parte da indústria e dos [clientes] residenciais privados e porque temos também uma alta importação de LNG (gás natural liquefeito)", sublinhou Casimir Lorenz, especialista no setor da energia da Aurora Energy Reasearch.
A Federação Alemã de Sindicatos tinha alertado, no início do mês, que indústrias inteiras, do aço e alumínio, ao vidro, passando pela indústria química "correm o risco de entrar em colapso permanente" devido ao corte de fornecimento de gás.
Em relação aos privados, medidas como o regresso ao teletrabalho, tomar duches mais curtos, ou o corte de fornecimento de água quente em determinados horários deverão continuar a ser equacionados.
"Com a retoma do fornecimento, a crise energética certamente não acabou. Mas é mais gerível do que se tivéssemos uma completa paragem do fornecimento de gás especialmente crítico para países como a Alemanha onde muitas indústrias teriam de reduzir ainda mais a sua produção e oferta", revelou Casimir Lorenz em declarações à agência Lusa.
"Mesmo que continuemos a registar um influxo de gás, os preços vão continuar a estar altos. Talvez não os 180 euros por megawatt-hora, mas seguramente acima dos 100, porque se isso não acontecer, também não teremos condições de atrair as necessárias importações de LNG, assim como teríamos uma procura demasiado elevada", assegurou o especialista.
A Alemanha, a maior economia da Europa, depende do gás natural canalizado da Rússia, que representa 35% das suas importações de combustível. De acordo com o Ministério da Economia, a indústria elétrica importa quase todo o gás natural que utiliza, o que representa cerca de um quarto do cabaz energético total do país.
A indústria do alumínio, com vendas de 22 mil milhões de euros e 60 mil funcionários, depende do gás para fundição e reciclagem. Também a indústria do papel, com um volume de negócios de 15,5 mil milhões de euros e 40 mil funcionários, produz papel e cartão vitais para alimentos, medicamentos e artigos de higiene.
Algumas empresas estão a explorar formas de substituir o gás por outras fontes de energia. Ainda assim, para algumas que o usam como matéria-prima não há alternativa.
"A indústria vai continuar a enfrentar preços altíssimos que depois não pode reproduzir no resultado e no produto final por causa da competitividade. Por isso, as margens estão a diminuir, bem como a variedade de oferta de certos produtos", constatou o especialista no setor da energia da Aurora Energy Reasearch.
Para Casimir Lorenz, os elevados preços estão a "prejudicar a competitividade da indústria alemã e do resto da União Europeia", não duvidando que as empresas europeias vão "continuar a enfrentar um período difícil."
Já para os consumidores privados, passar um inverno gelado em casa está fora de questão, mas a fatura do gás vai seguramente aumentar e muito.
"Mesmo que houvesse um corte total do fornecimento do gás, os clientes particulares têm prioridade (...) Ou seja, haverá sempre gás para as pessoas desde que possam e queiram pagar um valor elevado por ele", realçou.
Os estados-membros da UE estão a tentar diversificar os seus fornecedores de gás, voltando-se para os Estados Unidos, Qatar, Azerbaijão, entre outros países.
A Comissão Europeia propôs na quarta-feira uma meta para redução do consumo de gás na UE de 15% até à primavera, admitindo avançar com redução obrigatória da procura.
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