Campanha do governo espanhol 'roubou' e editou imagens de mulheres

A "campanha inclusiva" do governo espanhol diz querer combater a "gordofobia" e a "violência estética", mas editou uma imagem de uma modelo para esconder uma perna amputada.

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Notícias ao Minuto com Lusa
02/08/2022 12:33 ‧ 02/08/2022 por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo

Espanha

A campanha de verão ‘Todos os corpos são corpos de praia’, lançada na passada quinta-feira pelo governo espanhol, está envolta numa (nova) polémica. Em causa está o facto de a imagem ilustrativa da campanha utilizar fotografias de mulheres sem o seu consentimento.

As primeiras críticas à campanha - que mostra uma imagem de várias mulheres com diferentes tipos de corpos e idades na praia com a frase ‘O verão também é nosso’ - surgiram horas após o seu lançamento. 

A ministra Irene Monteiro, que tutela o Instituto das Mulheres e que tem a pasta da Igualdade no governo espanhol, foi a mais criticada, com os internautas a pedir a sua demissão. A hashtag #IreneMonterodemite (Irene Monteiro, demite-te) entrou nas tendências da rede social Twitter em Espanha, com mensagens de ódio contra a ministra e a garantia de que tinha gastado 84 mil euros (o que foi negado oficialmente) com uma iniciativa "desnecessária" porque "as gordas sempre puderam ir à praia" sem necessidade da "autorização da ministra".

A mais recente polémica envolve duas mulheres que aparecem na campanha, que alegam não ter dado autorização para a sua utilização. Sian Lord, uma modelo britânica com uma perna amputada, viu uma fotografia sua ser utilizada na campanha “inclusiva”, mas a sua prótese foi editada. 

Nas redes sociais, a modelo disse “nem conseguir explicar a raiva” que sente “pelo facto de o governo espanhol” ter utilizado a sua imagem “numa campanha de positividade”. “Uma coisa é usar a minha imagem sem a minha autorização, outra é editar o meu corpo”, disse nas ‘stories’ do Instagram.

Já numa publicação, afirmou que a fotografia original agora a faz sentir “extremamente triste” e frisou que a sua perna amputada “não é motivo de vergonha”, mas sim “um produto de força, resiliência e independência”. 

A autora da campanha recorreu ao Twitter para “pedir publicamente desculpa às modelos”, por se ter “inspirado nas suas fotografias” e “ter utilizado uma tipografia sem licença”. “Após a justificada controvérsia em torno dos direitos de imagem da ilustração, considerei que a melhor forma de mitigar os danos que possam ter resultado da minha conduta é partilhar igualmente os benefícios deste trabalho”, escreveu, acrescentando que recebeu 4.490 euros pelo trabalho, e não 84 mil.

Defensores da campanha, dentro e fora das redes sociais, consideram que as reações que gerou a iniciativa são a prova de que é mesmo necessário insistir na mensagem que queria transmitir, ou seja, de aceitação do corpo. E que aquilo que a campanha pretendia denunciar e combater existe mesmo: "a gordofobia" e "a violência estética".

Foi isto mesmo que disse na sexta-feira a secretária de Estado da Igualdade, Angela Rodriguez, para quem os milhares de insultos e mensagens de ódio que se seguiram ao lançamento da campanha demonstram que "há um problema" e que estas iniciativas são necessárias.

"Continua a incomodar que as mulheres gordas tenham espaços de visibilidade e por isso é importante começar a fazer política com esta questão", disse a secretária de Estado, em declarações à agência de notícias EFE.

Para Angela Rodriguez, está em causa uma "discriminação estrutural", que afeta "mulheres gordas ou homens carecas". "É preciso abrir este debate porque a diversidade corporal não é aceite. Onde estão as pessoas gordas? Não sabem ser apresentadoras de televisão, não sabem ser políticas?", questionou.

A secretária de Estado alertou que "a violência estética" ou a "gordofobia" estão na origem de problemas graves, como distúrbios alimentares ou questões de saúde mental, o que também denunciaram muitas mulheres que participaram na polémica gerada nas redes sociais e que contaram as suas próprias experiências.

"Temos de assinalar que todos os corpos são válidos e que são necessárias campanhas de sensibilização neste sentido", sublinhou a secretária de Estado, que assegurou que esta campanha foi apenas a primeira de várias iniciativas do Ministério da Igualdade neste âmbito.

Leia Também: "Todos os corpos são corpos de praia". Espanha lança campanha inclusiva

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