Kyiv e Moscovo pedem envio de missão à central nuclear de Zaporizhzhia
A Ucrânia considerou hoje "totalmente despropositadas" as alegações russas de que Kyiv tenha bombardeado a central nuclear de Zaporizhzhia, no sudeste do país, e pediu o envio de uma missão internacional dirigida pela ONU até finais de agosto.
© Lusa
Mundo Guerra na Ucrânia
Em declarações em Viena, o embaixador ucraniano junto da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA, organização do sistema da ONU), Yevhenii Tsymbaliuk, reconheceu que a situação na central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, "não é positiva" e advertiu sobre um "potencial desastre".
Em contraste, a Rússia assegurou hoje que mantém a AIEA informada sobre a situação da central nuclear, atualmente controlada pelo exército russo e alvo de vários ataques na passada sexta-feira, admitindo ainda a necessidade de uma inspeção internacional.
"Enviamos regularmente à AIEA informação atualizada 'in situ' e que está refletida nas circulares informativas do organismo, que revelam de forma clara as ações criminosas das Forças armadas ucranianas, cujo comando perdeu em definitivo a capacidade de pensar racionalmente", indicou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.
Segundo a porta-voz da diplomacia russa, aos militares ucranianos "faltou-lhes o sentido elementar da autopreservação".
"Ao apontar as suas peças de artilharia contra os reatores em funcionamento e ao armazenamento de combustível nuclear utilizado, os ucranianos disparam contra si próprios", alertou, ao assinalar que "a situação torna-se mais perigosa cada dia".
Ainda a partir de Viena, o embaixador ucraniano junto da AIEA indicou que os recentes ataques, ocorridos na sexta-feira e sábado, destruíram numerosos sensores de vigilância, pelo que não é possível medir os níveis de radiação em toda a central.
Tsymbaliuk reconheceu que a Ucrânia desconhece os objetivos da Rússia, mas não afastou a hipótese das forças russas desligarem a central do sistema elétrico ucraniano e provocar um apagão generalizado na parte sul do país, invadido pelo exército russo em 24 de fevereiro.
"Esperamos a chegada de uma missão internacional, liderada pela AIEA, mas também com peritos da ONU e outros países. Essa missão é importante porque os peritos devem chegar a conclusões reais e a sua mera presença melhorará o nível de segurança da central", prosseguiu Tsymbaliuk.
Após denunciar o "terrorismo nuclear russo", o embaixador também assegurou que a presença dos peritos da AIEA na central nuclear nunca será entendida por Kyiv como uma "legitimação" da ocupação russa.
Já a porta-voz da diplomacia de Moscovo optou por saudar as declarações do secretário-geral da ONU, António Guterres, em apoio aos esforços da AIEA "para criar condições destinadas a estabilizar a situação em Zaporijia e permitir o acesso (da agência) à central".
Guterres advertiu hoje que qualquer ataque a uma central nuclear é "uma missão suicida", numa referência aos ataques que têm visado Zaporijia, mas evitou assinalar responsáveis.
"Esperamos por parte da ONU que agora não existem obstáculos para organizar uma missão internacional [da AIEA] à central de Zaporijia", acrescentou Zakharova.
A representante de Moscovo também lamentou que a ONU tenha demorado a reagir após as primeiras denúncias russas de ataques contra a central.
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