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Novos cardeais mostram Vaticano "mais universal e menos romanocêntrico"

Os 21 novos cardeais a criar pelo Papa Francisco no sábado são sobretudo de países emergentes, incluindo do Brasil, Paraguai, Índia, Timor-Leste, sinal de um Vaticano "mais universal e menos romanocêntrico", segundo vaticanistas ouvidos pela Lusa.

Novos cardeais mostram Vaticano "mais universal e menos romanocêntrico"
Notícias ao Minuto

15:14 - 26/08/22 por Lusa

Mundo Papa

Franca Giansoldati, vaticanista do jornal Il Messaggero disse à Lusa que a predominância de novos cardeais do hemisfério sul no Consistório de sábado vem na sequência da maior atenção da Igreja para essas áreas geográficas.

"É precisamente a geografia da Igreja que está a mudar e que quer ser mais universal e não mais romanocêntrica. Tudo teve início com Paulo VI, que começou a escolher cardeais estrangeiros, depois chegou João Paulo II que deu uma mudança nessa direção que também foi seguida por Bento XVI. O Papa Francisco continua nesse caminho", disse Giansoldati.

"Hoje em dia, o italiano quase não é falado na cúria, mas todos falam o inglês. A Igreja sente a necessidade de se dar uma estrutura o mais internacional possível", adiantou.

Entre os novos cardeais, 16 terão direito ao voto no futuro conclave, onde apenas os cardeais com menos de 80 anos votam. Aqueles com mais de 80 anos, por outro lado, podem ser eleitos Papa, mas não podem votar.

"Os consistórios são momentos de confronto fundamentais para a organização interna do governo da Igreja (...). Obviamente todos os consistórios para a criação de novos cardeais colocam a Igreja no centro das atenções porque os cardeais são escolhidos pelo Papa e segundo as suas escolhas, também podemos entender como será a composição do colégio de cardeais que elegerá o próximo Papa e que peso geográfico as várias alianças terão dentro do conclave", adiantou Franca Giansoldati.

Dado que entre os cardeais poderá estar o futuro Papa, as biografias dos novos cardeais são estudadas para entender não apenas onde nasceram, mas também o que fizeram na vida, que visão têm do mundo, que experiências tiveram.

Para Giansoldati, entre os novos nomes há dois "muito interessantes", que "podem ser capazes de pôr em contacto mundos diferentes", incluindo Jean Marc Aveline, arcebispo de Marselha e futuro cardeal daquela cidade.

"Ele é um francês, nascido e criado na Argélia, fala árabe perfeitamente, mas ao mesmo tempo é filho da França e manteve uma cultura europeia. Ele é uma pessoa adorável, que lembra muito João XXIII, e todos em Marselha o adoram", diz a vaticanista italiana.

A segunda figura é Giorgio Marengo, bispo de Ulan Bator na Mongólia, que tem 48 anos e lidera uma comunidade de algumas centenas de católicos. Marengo é natural de Cuneo, no norte da Itália.

Além da nomeação de novos cardeais, o consistório discutirá a Constituição Apostólica, um conjunto de documentos fundamentais para a Igreja sobre a promulgação de leis, temas importantes para o Vaticano e dogmas.

Por outro lado, não haverá discussão oficial sobre a questão dos abusos na Igreja, incluindo sobre notícias de que o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, teria colocado ao Papa a possibilidade de deixar o cargo, depois de ter sido envolvido no alegado encobrimento de casos de abusos de menores cometidos por sacerdotes da diocese de Lisboa.

Analistas ouvidos pela Lusa referem que o Papa poderá aceitar a possível renúncia de Clemente, dada a linha dura que adotou contra os abusos sexuais na Igreja, mas também recordam a proximidade no calendário das Jornadas Mundiais da Juventude, marcadas para Lisboa no próximo ano, e a relevância do evento, um projeto demasiado importante para substituir o patriarca no imediato.

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