Relatório da ONU sobre abusos em Xinjiang censurado na Internet chinesa
As referências ao relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), que acusou Pequim de possíveis "crimes contra a humanidade" na região de Xinjiang, foram hoje censuradas na Internet chinesa.
© Reuters
Mundo Xinjiang
Uma pesquisa pelas palavras-chave "Relatório da ONU sobre Xinjiang" na rede social Weibo dá apenas como resultado uma partilha feita pela embaixada da Alemanha em Pequim, que foi também apagada 40 minutos após ser divulgada.
Facebook ou Twitter, assim como os principais órgãos de informação internacionais, estão bloqueados na China, mas o país tem as suas próprias redes sociais - o Wechat e o Weibo, que contam com centenas de milhões de utilizadores.
"Não pensem que por serem da embaixada não vão ser censurados", reagiu um internauta chinês à partilha do posto diplomático alemão, colocando no fim um 'emoji' sorridente.
A partilha da embaixada alemã gerou cerca de 200 comentários, antes de ser apagada. A maioria dos internautas acusou a ONU de fabricar informações sobre os abusos dos Direitos Humanos das minorias étnicas de origem muçulmana na região de Xinjiang, no extremo oeste da China.
"Como disse o vosso compatriota Joseph Goebbels: 'Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade'", atirou um dos internautas, numa referência ao ministro da Propaganda alemão durante o regime nazi.
A reação das autoridades chinesas foi igualmente assertiva.
O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Wang Wenbin acusou o Alto Comissariado da ONU de agir como "acólito e cúmplice" dos Estados Unidos e do Ocidente.
"O ACNUDH criou o relatório a partir do nada, apoiando-se na conspiração política de algumas forças antichinesas no estrangeiro", disse o porta-voz.
No documento, o organismo da ONU menciona possíveis "crimes contra a humanidade" cometidos contra a minoria muçulmana uigur e membros de outros grupos étnicos.
"A extensão da detenção arbitrária e discriminatória de uigures e de outros grupos predominantemente muçulmanos (...) pode constituir crimes internacionais, em particular crimes contra a humanidade", disse o ACNUDH no relatório.
O organismo da ONU citou "provas credíveis" de tortura e violência sexual, pedindo a intervenção da comunidade internacional.
"O relatório é um pacote de desinformação e um instrumento político para a estratégia dos Estados Unidos e do Ocidente de utilizar Xinjiang para impedir o desenvolvimento da China", disse Wang, numa conferência de imprensa em Pequim.
O relatório sobre Xinjiang foi divulgado na quarta-feira à noite, antes de a Alta Comissária Michelle Bachelet terminar o seu mandato de quatro anos.
O documento resulta de uma controversa visita de Bachelet a Xinjiang em maio.
Organizações independentes e jornalistas acusam há vários anos a China de internar mais de um milhão de uigures e membros de outros grupos étnicos muçulmanos em "campos de reeducação", impondo até esterilizações e trabalhos forçados.
Pequim sempre rejeitou aquelas acusações, insistindo que se tratam antes de "centros de formação profissional" destinados a desenvolver o emprego e erradicar o extremismo em Xinjiang, há muito atingida por ataques atribuídos a separatistas e islamistas uigures.
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