Em declarações à imprensa em Estrasburgo, depois de ter assistido ao discurso do Estado da União proferido por Ursula von der Leyen, o deputado bloquista considerou que o mesmo "teve coisas positivas, desde logo o anúncio de medidas que ainda não estão apresentadas para a tributação de lucros extraordinários e para o controlo de preços, nomeadamente no gás".
"Essas medidas são muito relevantes até porque há uma série de países que já estão a avançar nesse sentido, infelizmente não o nosso", apontou, tecendo então críticas às reservas do Governo português à limitação dos lucros extraordinários das empresas.
"Não sabemos ainda qual é que será o desenho concreto das medidas, mas registamos já o momento insólito que é ter uma presidente da Comissão Europeia proposta pela direita alemã a colocar-se léguas à esquerda de um primeiro-ministro socialista, o nosso", disse.
José Gusmão disse esperar "que o Governo português, já que não defendeu [esta medida] em Portugal, como fizeram muitos outros Estados-membros, com governos das mais variadas orientações [...], pelo menos não obstaculize a aprovação destas medidas, nomeadamente no Conselho Europeu".
"Se não teve a coragem nem o sentido de justiça de aplicar essas medidas em Portugal, que pelo menos não obstaculize a sua aprovação à escala europeia", reforçou.
Como aspeto mais negativo da intervenção de Von der Leyen, o deputado do Bloco de Esquerda sublinhou "o anúncio de que o Pacto de Estabilidade e Crescimento irá regressar, sem qualquer referência à reformulação das regras de governação económica que está em debate nas varias instituições europeias".
"Um anúncio que foi aplaudido entusiasticamente pela bancada da direita, mas que combinado com o aumento das taxas de juro por parte do BCE levanta um cenário de catástrofe económica gravíssimo para os próximos anos", advertiu.
A presidente da Comissão Europeia defendeu hoje que os lucros extraordinários das empresas do setor do petróleo, gás, carvão e refinarias devem "ser canalizados para os que mais precisam", propondo uma contribuição solidária.
"Não me interpretem mal. Na nossa economia social de mercado, os lucros são bons, mas, nestes tempos, é errado receber receitas e lucros extraordinários recordes beneficiando da guerra e nas costas dos nossos consumidores, [pelo que], nestes tempos, os lucros devem ser partilhados e canalizados para aqueles que mais precisam", declarou Ursula von der Leyen, intervindo no seu terceiro discurso sobre o Estado da União, na sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo.
De acordo com a líder do executivo comunitário, "estas empresas estão a fazer receitas que nunca contabilizaram, com que nunca sequer sonharam".
Por isso, a ideia desta taxação aos lucros extraordinários seria obrigar os "produtores de eletricidade a partir de combustíveis fósseis a dar uma contribuição para a crise", fazendo com que esta taxa obtenha verbas para apoios sociais, explicou Ursula von der Leyen.
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