Eleições em Itália. Direita pode conseguir resultados sem precedentes

O académico italiano e especialista em sondagens Lorenzo Pregliasco afirmou hoje num debate sobre as legislativas em Itália que a direita pode alcançar uma maioria sem precedentes no país, permitindo alterações constitucionais. 

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© Ivan Romano/Getty Images

Lusa
15/09/2022 11:54 ‧ 15/09/2022 por Lusa

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Itália/Eleições

As últimas sondagens publicadas na semana passada indicam que Giorgia Meloni, do partido Fratelli d' Italia, em coligação com a Liga, pode conseguir uma vitória sem precedentes para a direita nas legislativas do próximo dia 25 de setembro.     

No debate organizado em Viena pela Fundação ERSTE (Europe's Futures-Ideas for Action) e Presseclub Concordia, Pregliasco explicou que de acordo com a lei italiana, está proibida a publicação de sondagens nas duas semanas antes do ato eleitoral, mas os resultados das pesquisas desde 2018 indicam o fortalecimento da direita, o que permite afirmar que Giorgia Meloni pode vir a ser eleita primeira-ministra de Itália, sucedendo a Mário Draghi. 

Para o especialista, a provável vitória não é surpreendente porque em Itália existe uma "maioria silenciosa muito conservadora", num contexto em que o "centro-esquerda" está quase sempre dividido.

Assim, caso se venha a verificar uma maioria do centro direita no Senado e este ocupe dois terços dos lugares no Parlamento, os reflexos podem ser profundos.

"Com 2/3 do Parlamento, pode-se mudar a Constituição sem a necessidade de realização de referendos ou votações que confirmem as reformas, o que pode constituir uma situação sem precedentes em Itália", disse Pregliasco, alterando, por exemplo, o sistema presidencial de Itália. 

"Mesmo assim, não vejo perigos para a democracia em Itália, em comparação com anos 1920. Há uma coincidência peculiar porque se Meloni vier a ser escolhida primeira-ministra toma posse no final de outubro de 2022, exatamente cem anos após (o ditador) Benito Mussolini ter assumido o poder em Itália (outubro de 1922)", disse Pregliasco.

Apesar das coincidências, referiu, hoje os tempos são diferentes, até porque a Constituição em 1922 "era mais flexível" e deu oportunidade a Mussolini para consolidar o poder, apesar da vigorosa oposição do espetro partidário da época. 

"A democracia hoje é forte, as regras são fortes. Por isso, não vejo a democracia italiana em risco se a direita vencer estas eleições", disse Lorenzo Pregliasco.    

Por outro lado, sublinhou, o Partido Democrático (PD) de "centro esquerda" está desgastado porque fez parte de Executivos - ou apoiou governos - durante 10 anos "sem nunca vencer uma única eleição nacional".  

O académico da Universidade de Bolonha disse ainda que a atual campanha eleitoral não está a debater ideias ou convicções políticas "de fundo" porque o ponto central da atualidade em Itália, disse, "é o custo de vida, a inflação e os gastos em energia".

O especialista alerta ainda que sinalizar padrões ou tendências ou explicar ciclos não é a melhor forma de analisar a política, sobretudo em Itália.

"A partir do momento em que afirmamos que estamos numa nova fase completamente diferente começamos a ver outros - os populistas -, por exemplo, a aproximarem-se do centro do debate político. Na Europa já afirmámos que o populismo estava acabado mas agora vemos sinais contrários", disse.

"Os ciclos políticos em Itália são breves e pouco consistentes. Aqui (em Itália), Mário Draghi é o político mais popular para os italianos mas Meloni está bem posicionada para vencer as eleições. Os eleitores vêm Draghi como uma figura com credibilidade internacional mas ao mesmo tempo essas mesmas pessoas dizem que agora precisámos de Meloni", concluiu Lorenzo Pregliasco num debate que decorreu de forma remota. 

Paralelamente, a campanha eleitoral em Itália está a ser afetada pelas acusações dos serviços de informações dos Estados Unidos referindo que a Rússia financiou com 300 milhões de dólares políticos de vários países.

Líderes europeus pediram o esclarecimento da verdade sobre a eventual implicação dos partidos italianos tendo a direita negado ter recebido financiamento de Moscovo.  

"É estranho que dez dias antes da votação, cheguem estas 'notícias falsas': há muitos anos que decorrem investigações e nunca foi encontrado", disse Matteo Salvini, líder da Liga, partido que já foi investigado sobre o suposto financiamento russo.  

Na segunda-feira, em Roma, o líder do Partido Democrático e ex-primeiro ministro Enrico Letta demonstrou preocupação, sobre a vitória da extrema-direita na Suécia, receando a vitória de Giorgia Meloni em Itália.  

Meloni e o partido Fratelli d' Italia têm sido criticados pela esquerda italiana pelas posições sobre contra a interrupção voluntária da gravidez, a União Europeia e os fluxos migratórios. 

Leia Também: Itália. Líder da extrema-direita garante não querer abolir aborto

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