A marcha de orgulho da comunidade LGBTI+ (lésbicas, 'gays', bissexuais, transgénero, 'queer' e outros), que deveria ser o elemento central das comemorações do EuroPride 2022, evento pan-europeu que se realiza a cada ano numa cidade de um país diferente, decorreu sem incidentes assinaláveis. Mas, segundo a imprensa local, registaram-se confrontos entre pessoas contra a manifestação e a polícia.
O Ministério do Interior sérvio tinha proibido a marcha na terça-feira, invocando razões de segurança, enquanto grupos da extrema-direita ameaçavam realizar as suas próprias manifestações após uma série de protestos anti-Pride na capital.
"Estive em várias [marchas] Pride, mas esta foi ligeiramente mais stressante que as outras", declarou uma das participantes, Yasmin Benoit, manequim e ativista, citada pela agência de notícias France-Presse.
"Sou do Reino Unido, onde toda a gente é mais solidária e onde o evento é mais comercial (...) Mas aqui, é mesmo o que uma [marcha] Pride deve ser", acrescentou, referindo-se à luta social que está na origem do movimento.
Luka, um manifestante sérvio, resumiu assim: "Estamos a lutar pelo futuro deste país".
Apesar da proibição, os manifestantes conseguiram percorrer algumas centenas de metros debaixo de chuva, entre o Conselho Constitucional e um parque próximo, ou seja, um trajeto muito encurtado em comparação com o que estava inicialmente previsto.
Um forte dispositivo da polícia antimotim foi destacado para junto da concentração, repelindo pequenos grupos que se manifestavam contra a marcha Pride, brandindo cruzes e outras insígnias religiosas.
O Ministério do Interior tinha igualmente proibido qualquer contramanifestação, mas, nos fóruns de debate da extrema-direita, vários membros asseguraram que iriam protestar contra o desfile.
De acordo com o ministério, 31 pessoas foram detidas. As autoridades não precisaram o motivo, mas jornalistas que acompanhavam o evento viram vários contra-manifestantes a agir de forma a serem detidos.
A estação televisiva sérvia N1 noticiou que ocorreram distúrbios entre a polícia e contra-manifestantes, tendo estes lançado granadas de fumo contra as forças policiais que causaram danos em diversos veículos.
A proibição da marcha do orgulho EuroPride 2022 tinha causado consternação entre as organizações não-governamentais (ONG) de defesa da comunidade LGBTI+.
É uma "rendição vergonhosa e a consagração implícita da intolerância e das ameaças de violência ilegal", declarou o diretor do programa dos direitos LGBTI+ da ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, Graeme Reid.
A Sérvia tem sido alvo de intensa pressão internacional: mais de 20 embaixadas, entre as quais as dos Estados Unidos da América, França, Alemanha e Japão, assinaram um comunicado conjunto apelando ao Governo para recuar na sua decisão de proibir a marcha.
A Sérvia é candidata à adesão à União Europeia há uma década, mas os Estados-membros têm expressado ao longo dos anos as suas preocupações quanto ao seu histórico em matéria de direitos humanos.
O casamento homossexual é ilegal no país de menos de sete milhões de habitantes, onde a homofobia está profundamente enraizada, apesar de alguns progressos contra a discriminação.
As marchas do orgulho LGBT de 2001 e de 2010 foram alvo da extrema-direita e ensombradas pela violência.
Desde 2014, o desfile EuroPride decorre sem incidentes assinaláveis, mas sob forte proteção policial.
No fim de semana passado, milhares de pessoas, gangues de 'motards', padres ortodoxos e nacionalistas da extrema-direita saíram à rua para exigir o cancelamento do desfile.
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