"Liga atual não tem nada que ver com a nossa", diz fundador do partido
A velha guarda da Liga Norte, transformada em Liga com Matteo Salvini como líder, criticou-o, esta terça-feira, duramente após o revés nas legislativas de domingo, que, após 35 anos, deixou fora do parlamento o fundador do partido.
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"O povo do Norte expressa, numa mensagem clara e inequívoca, que não pode deixar de ser ouvido", disse o criador, em 1991, da formação secessionista, Umberto Bossi, de 81 anos, enviando "um recado" a Salvini, secretário-geral do partido desde 2013, após a divulgação dos resultados definitivos do escrutínio, em que a Liga não alcançou 9% dos votos, em forte contraste com os 28% obtidos nas últimas eleições gerais de 2018.
Uma figura histórica do parlamento italiano, Bossi acrescentou que não queria candidatar-se, devido a problemas relacionados com a idade, mas que o fez "por respeito à militância", lançando outra indireta a Salvini. Acabou por ficar de fora do Senado, porque, no círculo eleitoral de Varese, pelo qual se candidatou, a Liga não obteve mandatos parlamentares, pelo sistema proporcional.
Também o ex-ministro e histórico expoente da Liga Roberto Castelli, de 76 anos, se mostrou "irritado, triste e furioso" com a não-reeleição de Bossi, que considerou "uma verdadeira injustiça" e fruto "do descalabro" eleitoral.
"Sou muito crítico em relação à liderança de Salvini: a Liga atual não tem nada que ver com a nossa, é um partido centralista com aspetos de direita. Quando alguém copia o original, no final, as pessoas votam no original. Ao transformar-se num duplo da [líder dos Irmãos de Itália, Giorgia] Meloni, pelo menos foi coerente", defendeu, referindo-se à próxima primeira-ministra, com cujo partido a Liga se coligou, bem como com o Força Itália, de Silvio Berlusconi, que foi eleito para o Senado, nove anos após a sua expulsão na sequência de uma condenação por fraude fiscal.
Outro destacado dirigente da Liga, o ex-ministro Roberto Maroni, de 67 anos, pediu abertamente a demissão do secretário do partido: "Está na altura de termos um novo líder", declarou, embora Castelli tenha indicado que tal era improvável, depois de Salvini ter afirmado na segunda-feira que iniciará um processo de audição dos militantes, mas que não tenciona abandonar o cargo e está "disposto a trabalhar mais que nunca".
Em resposta às críticas, o conselho federal do partido, hoje reunido em Milão, assegurou que "a Liga será uma parte fundamental do Governo de centro-direita" e atribuiu o mau resultado nas urnas "ao convívio forçado com o Partido Democrata e o Movimento 5 Estrelas", referindo-se à sua inclusão no Governo de "unidade nacional" liderado pelo primeiro-ministro Mario Draghi.
Os Irmãos de Itália (FdI, de extrema-direita) de Meloni - o único partido que não fez parte do executivo de Draghi -- tornaram-se o maior do país, com cerca de 26% dos votos e liderarão o Governo de coligação com a Liga e o Força Itália.
O revés eleitoral da Liga não se limitou ao centro e ao sul do país, tendo-se registado igualmente no norte, o histórico bastião da formação e onde os FdI se tornaram o partido mais votado: inclusive na Lombardia e Véneto, os tradicionais baluartes da Liga, o partido de Giorgia Meloni obteve o dobro dos votos do de Salvini.
"O povo nomeia-te para o representares; quando já não o representas, tiram-te esse poder. É inegável que o resultado obtido pela Liga é absolutamente dececionante, e não podemos estar de acordo com isso encontrando simples justificações", atacou o presidente da região de Véneto e membro da Liga, Luca Zaia.
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