As autoridades russas acusaram o político da oposição Vladimir Kara-Murza de alta traição, de acordo com o que o seu advogado disse às agências de notícias russas, esta quinta-feira.
"O nosso cliente foi acusado depois de criticar abertamente as autoridades russas três vezes, em eventos públicos em Lisboa, Helsínquia e Washington. Estes discursos não foram uma ameaça [ao país], foram públicos e abertos a críticas", disse o advogado do ativista à agência TASS.
De acordo as publicações internacionais, os procuradores acusam Kara-Murza de trabalhar para organizações sediadas em países da NATO, ajudando-os com atividades que eram "contra a segurança da Rússia". De acordo com as autoridades russas, o político receberia por isto cerca de 30 mil dólares mensais (cerca de 30 mil euros).
Kara Murza já tinha sido acusado, em abril, por "espalhar desinformação" sobre o exército russo. Em julho, o seu advogado disse que as autoridades tinham aberto um outro caso que o envolveria em organizações "indesejáveis".
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.114 civis mortos e 9.132 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
Vladimir Kara-Murza, 41 anos, é uma das últimas figuras da oposição russa que ainda se encontra no país.
O ex-jornalista pertencia ao círculo próximo do opositor Boris Nemtsov, assassinado em Moscovo em 2015, e também trabalhou para a organização de Mikhail Khodorkovski, o ex-oligarca que no exílio se tornou acérrimo crítico do presidente, Vladimir Putin.
Kara-Murza garante ter sido envenenado por agentes russos em duas ocasiões, em 2015 e 2017, devido às suas atividades públicas.
Na terça-feira, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (CEDH) condenou Moscovo por ter anulado a candidatura de Vladimir Kara-Murza às eleições na Rússia pelo facto de possuir dupla nacionalidade russa e britânica.
O opositor possui nacionalidade russa desde o seu nascimento e obteve a nacionalidade britânica após se ter instalado no Reino Unidos aos 15 anos, juntamente com sua mãe.
[Notícia atualizada às 18h13]
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