Esta ONG, reconhecida na Rússia como agente estrangeiro, viu as autoridades russas apreenderem a sua sede na rua Karetniy Riad, na capital russa, poucas horas depois do Comité Nobel Norueguês lhe ter atribuído a distinção, noticiou a agência russa TASS.
O Prémio Nobel da Paz 2022 foi atribuído esta sexta-feira a Ales Bialiatski, da Bielorrússia, e às organizações de defesa dos direitos humanos Memorial, da Rússia, e Centro de Liberdades Civis, da Ucrânia.
Ao anunciar o prémio, a presidente do Comité Nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen, disse que os laureados representam a sociedade civil nos três países.
"Há muitos anos que promovem o direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. Têm feito um esforço notável para documentar crimes de guerra, abusos dos direitos humanos e abuso de poder", disse.
"Juntos, demonstram o significado da sociedade civil para a paz e a democracia", acrescentou Reiss-Andersen.
A organização russa Memorial foi criada em 1987 para investigar e registar crimes cometidos pelo regime soviético, mas tem denunciado violações de direitos humanos na Rússia.
Esta ONG continuou a crescer após o colapso da URSS e o seu constante conflito com o Kremlin fez com que fosse declarada "agente estrangeiro" e forçada a fechar no final de 2021.
O comité norueguês negou esta sexta-feira ter pretendido dar um "presente envenenado" ao Presidente russo, Vladimir Putin, no seu aniversário, ao atribuir o Nobel da Paz a defensores dos direitos humanos na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia.
Putin, que lançou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro deste ano, celebrou esta sexta-feira o seu 70.º aniversário.
"Este prémio não é dirigido a Vladimir Putin no seu aniversário ou em qualquer outro sentido, exceto que o seu Governo, tal como o Governo bielorrusso, é um governo autoritário que reprime os ativistas dos direitos humanos", disse a presidente do comité, Berit Reiss-Andersen.
Os cinco membros do comité disseram que os laureados deste ano "revitalizaram e honraram a visão de Alfred Nobel de paz e fraternidade entre nações", que consideraram ainda "mais necessária no mundo de hoje".
O químico e engenheiro sueco Alfred Nobel (1833-1896) deixou a sua fortuna para criar um prémio com o seu nome em diversas áreas.
Em relação à paz, segundo o comité norueguês, Nobel estipulou que deveria distinguir o trabalho "pela fraternidade entre nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz".
Desde 1901, o Nobel da Paz foi atribuído 102 vezes, a 91 homens, 18 mulheres e 25 organizações, num total de 134 laureados.
A lista inclui o atual Presidente timorense, José Ramos-Horta, e o bispo Ximenes Belo, distinguidos em 1996, pelo "seu trabalho para uma solução justa e pacífica do conflito em Timor-Leste".
Trata-se do segundo ano consecutivo em que Putin vê um seu crítico a receber o Nobel da Paz.
Em 2021, o jornalista Dmitry Muratov, editor-chefe do jornal independente Novaya Gazeta, entretanto suspenso, foi laureado conjuntamente com a também jornalista filipina Maria Ressa, pela defesa da liberdade de imprensa e de expressão.
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