Wole Soyinka defende que mundo devia apoiar luta das iranianas
O escritor nigeriano Wole Soyinka defendeu, em entrevista à agência Lusa, que a comunidade internacional devia apoiar a luta das mulheres iranianas pela liberdade contra o regime de Teerão.
© Lusa
Mundo Nobel da Literatura
Numa entrevista em Óbidos no âmbito da sua passagem pelo Folio e do lançamento em Portugal do seu primeiro romance em cinco décadas, intitulado "Crónicas do Lugar do Povo mais Feliz da Terra", o prémio Nobel da Literatura de 1986 realçou que, na altura em que cresceu, seria impensável que "a religião se tornasse numa força tão negativa sobre o progresso humano".
"Valham-nos revoltas como a que está em curso no Irão, onde as mulheres parecem estar a liderar, e espero que a sua luta, o seu combate, seja compreendido. Já é compreendido dentro do Irão como indo além da libertação feminina. Tem que ver com poder e liberdade, mas as mulheres estão a liderar essa luta e é, para mim, triste que, semanas depois de este movimento no Irão ter começado, mulheres de todo o mundo não estejam a organizar piquetes nas embaixadas iranianas e a assediar representantes desse regime assassino, que é culpado das execuções secretas de tantos", afirmou o escritor de 88 anos.
Para Soyinka, este movimento traduz-se numa "luta universal que requer apoio ativo do resto da comunidade global".
"É tempo, penso, de a comunidade global acordar. Para este abuso. Para este abuso, com centenas de anos, da humanidade feminina e, em simultâneo, da masculina, porque é uma questão de se capturar o território, uma zona, de comunidade humana e transmitir essa autoridade, essa autoridade roubada ao resto da comunidade e, daí, dominar e instalar-se como propagadores de verdades que não são mais do que ilusões", declarou o autor de "Os Intérpretes".
A indignação provocada pela morte, em 16 de setembro, da mulher curda iraniana de 22 anos Mahsa Amini desencadeou a maior vaga de manifestações e de violência no Irão desde os protestos de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis, num país rico em petróleo.
Masha Amini foi detida em 13 de setembro pela chamada polícia de costumes, em Teerão, por ter alegadamente infringido o rígido código de vestuário para as mulheres da República Islâmica, em particular o uso do véu.
As autoridades iranianas dizem que a jovem morreu de doença e não de "espancamentos", de acordo com um relatório médico, mas a família rejeita essa versão e diz que Masha morreu devido a espancamento e "um violento golpe na cabeça".
Os protestos têm sido violentamente reprimidos e pelo menos 108 pessoas foram mortas e centenas foram presas, segundo a organização não governamental Irão Human Rights, sediada em Oslo.
A Amnistia Internacional adiantou que pelo menos 23 crianças entre os 11 e os 17 anos foram "mortas pelas forças de segurança".
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