Analistas preocupados com relação China - Ocidente após discurso de Xi

Analistas apontam para "sinais preocupantes" nas relações entre China e Ocidente, à medida que o líder chinês, Xi Jinping, assinala intenção de prosseguir com uma política externa assertiva, na abertura de uma importante reunião política em Pequim.

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Lusa
17/10/2022 11:25 ‧ 17/10/2022 por Lusa

Mundo

Xi Jinping

"Atingimos o ponto de inflexão", descreveu à Lusa Scott Kennedy, Conselheiro para os Negócios e Economia da China, no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um grupo de reflexão ('think tank') com sede em Washington. "Daqui para a frente, ou vamos conter a atual corrente e tentar restaurar algum senso de normalidade no relacionamento entre a China e o resto do mundo, ou as coisas vão piorar significativamente", disse.

No discurso de abertura do 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), que deve reforçar o estatuto de Xi, o líder chinês frisou o sucesso do seu governo no combate contra a interferência estrangeira e na salvaguarda da dignidade e dos "interesses centrais" da China.

O líder chinês pediu mais investimento no Exército de Libertação Popular e reafirmou que a China não vai descartar o uso da força para anexar a ilha de Taiwan.

"A reunificação definitivamente deve ser alcançada e definitivamente vai ser alcançada", assegurou.

Sob a governação de Xi, a China adoptou uma política externa cada vez mais assertiva. As reivindicações territoriais de Pequim nos mares do Sul e do Leste da China e na região dos Himalaias suscitaram tensões com os países vizinhos. Os Estados Unidos, Japão, Austrália e Índia formaram um grupo estratégico apelidado de Quad, visando conter as ambições regionais da China.

"A visão de Xi Jinping sobre como o mundo funciona é realmente diferente da [dos antecessores] Jiang Zemin ou Hu Jintao", notou Scott Kennedy, um dos raros pesquisadores estrangeiros que conseguiu visitar o país asiático nos últimos dois anos e meio. "A China realmente parece ter enveredado por uma direção diferente", frisou.

Zhao Tong, especialista em Relações Internacionais da Universidade Tsinghua, em Pequim, revelou que a "liderança chinesa está convencida de que o Ocidente não aceitará voluntariamente a ascensão da China, a menos que o país demonstre um poder formidável".

A China tem o segundo maior orçamento de Defesa do mundo, a seguir aos Estados Unidos, e está a tentar ampliar o seu alcance através do desenvolvimento de mísseis balísticos, porta-aviões e da capacidade nuclear.

No domingo, Xi Jinping disse que as Forças Armadas do país devem "salvaguardar a dignidade e os interesses centrais da China".

"Vamos trabalhar mais rápido para modernizar a teoria militar, pessoal e armamento", apontou o líder chinês, num discurso pontuado pelos aplausos dos delegados. "Vamos melhorar as capacidades estratégicas dos militares", acrescentou.

Xi garantiu que o "rejuvenescimento da nação chinesa" é um processo irreversível.

Scott Kennedy considerou que as relações entre China e EUA atravessam o pior período dos últimos 50 anos, face a conflitos de interesse significativos e às diferenças em ideologia e valores.

"Sinto que Pequim e Washington tornaram-se em 'câmaras de eco' bem seladas, com as perspetivas de um sobre o outro a extremarem-se", resumiu, acrescentando que "esta perspetiva essencialmente enfatiza que o outro lado está totalmente errado e é o motivo pelo qual o relacionamento se deteriorou".

Numa palestra recente, Wang Jisi, um dos principais especialistas em política externa de Pequim, afirmou que, nos últimos anos, os líderes chineses "desenvolveram uma percepção mais clara" de que as dificuldades na relação China - EUA estão profundamente enraizadas nas respectivas estruturas políticas dos dois países.

"Enquanto a China insistir no 'socialismo com características chinesas' -- ou o que alguns norte-americanos chamam de 'capitalismo de Estado' -- e se recusar a fazer mudanças políticas fundamentais, deve estar preparada para enfrentar uma competição estratégica de longo prazo com os Estados Unidos", descreveu.

Também a União Europeia está a reavaliar a relação económica e política com a China. Bruxelas e Pequim chegaram a um impasse na aprovação de um acordo comercial após a imposição de sanções devido à detenção em massa de membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigur, na região chinesa de Xinjiang.

A decisão da China de não condenar a agressão russa à Ucrânia e as crescentes ameaças a Taiwan têm também levado as autoridades europeias a endurecer a atitude em relação a Pequim.

Leia Também: Xi Jinping espera "maior contributo" de Macau e Hong Kong

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