A maioria dos autores ainda vivos que foram condecorados com o Prémio Nobel da Literatura, assim como dois laureados em outras áreas, apelaram esta quarta-feira para que os vários líderes mundiais presentes na COP27, no Egito, ajudem na libertação dos milhares de presos políticos detidos no país.
A COP27, a conferência internacional para discutir medidas de combate às alterações climáticas, arranca no dia 6 de novembro, mas o evento marcado para Sharm el-Sheikh, uma cidade turística junto ao Mar Vermelho, tem sido manchado por críticas contra o regime ditatorial egípcio, especialmente devido aos milhares de presos políticos.
Numa carta aberta, os premiados alertam para a situação do escritor Alaa Abd El-Fattah, um ativista que tem sido detido ao longo da última década e que se tornou num dos rostos dos protestos pró-democracia na Praça Tahir, em 2011.
Alaa está em greve de fome há cerca de seis meses e anunciou que deixará de beber água no dia 6 de novembro, dia em que começa a conferência.
A carta foi organizada pelos editores do escritor egípcio no Reino Unido e assinada por Svetlana Alexievich, JM Coetzee, Annie Ernaux, Louise Glück, Abdulrazak Gurnah, Kazuo Ishiguro, Elfriede Jelinek, Mario Vargas Llosa, Patrick Modiano, Herta Müller, Orhan Pamuk, Wole Soyinka e Olga Tokarczuk. Além destes 13 premiados com o Nobel da Literatura, assinaram também a carta George P. Smith, vencedor do Nobel da Química, e Roger Penrose, galardoado com o Nobel da Física.
#FreeAlaa @FreedomForAlaa @MadaMasr @FitzcarraldoEds pic.twitter.com/FSM3ebu98w
— Seven Stories Press (@7StoriesPress) November 2, 2022
Os 15 laureados pedem que os líderes presentes na COP27 "abordem os nomes dos prisioneiros, peçam a sua liberdade e convidem o Egito a virar a página e tornar-se num parceiro num futuro diferente, um futuro que respeite a vida humana e a dignidade".
"Alaa passou os últimos dez anos - um quarto da sua vida - na prisão, por palavras que escreveu. Como laureados do Nobel, acreditamos no poder das palavras de mudar o mundo, e na necessidade de defendermos as palavras se quisermos conseguir um futuro mais sustentável e genuinamente justo", acrescentam os autores e cientistas.
Em 2014, Alaa Abd El-Fattah foi condenado a cinco anos de prisão por ter participado em protestos não autorizados. E, em 2019, foi novamente detido por espalhar "notícias falsas" sobre o regime, tendo sido condenado a mais cinco anos de prisão. As irmãs do autor têm acampado à porta do Ministério do Negócios Estrangeiros britânico, em Londres, para exigir que o governo do Reino Unido faça mais para libertar Alaa.
Yesterday I saw Alaa's sister @sana2 who is camped out in front of @FCDOGovUK - calling on the UK government to use its immense leverage to save his life.
— Jack Shenker (@hackneylad) November 2, 2022
"I’m scared, but I remind myself that he’s right," she told me. "He can’t control his destiny, but he can choose this." pic.twitter.com/Mqc7wW53V3
Em Portugal, uma carta aberta assinada por vários políticos, jornalistas, ativistas e muitos outros cidadãos pediu em setembro o boicote à COP27, assim como a libertação de Alaa Abd El-Fattah, que está em greve de fome contra a sua prisão há mais de 200 dias.
Muitos governos e ONGs acusam a organização do evento de ajudar o regime do Egito, liderado por Abdul Fatah Al-Sisi, ao legitimar o governo através da conferência, apontando o dedo para os mais de 60 mil presos políticos no país.
Na segunda-feira, a ativista ambiental sueca Greta Thunberg anunciou que também não vai marcar presença no evento, considerando que "as COP são usadas maioritariamente como uma oportunidade de os líderes e as pessoas no poder para terem atenção, usando formas diferentes de 'greewashing'".
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