Democratas e republicanos divergem sobre apoio financeiro a Kyiv

O apoio financeiro dos Estados Unidos à Ucrânia, outrora consensual, é agora tema de divergência entre democratas e republicanos e a sua continuidade pode estar em causa após as eleições intercalares de 08 de novembro.

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© Drew Angerer/Getty Images

Lusa
04/11/2022 09:21 ‧ 04/11/2022 por Lusa

Mundo

EUA/Eleições

Os Estados Unidos já autorizaram mais de 60 mil milhões de dólares (60,7 mil milhões de euros) em ajuda à Ucrânia, com mais 18,5 mil milhões de dólares (18,7 mil milhões de euros) em ajuda militar desde janeiro de 2021, quando o Presidente, Joe Biden, chegou à Casa Branca.

O apoio financeiro dos Estados Unidos a Kyiv, para enfrentar os ataques da Rússia, vinha até então recebendo um forte apoio bipartidário, quer no Senado, quer na Câmara dos Representantes.

Contudo, o líder dos republicanos na Câmara, Kevin McCarthy, abalou essa unidade ao alertar em outubro que o seu partido não passará um "cheque em branco" à Ucrânia se conquistar a maioria dos assentos nas intercalares.

Na ocasião, McCarthy sugeriu que os norte-americanos querem que o Congresso se concentre em questões "mais próximas de casa".

Essas declarações levaram à indignação de Joe Biden, que usou um evento de angariação de fundos em Filadélfia, na Pensilvânia, um estado-chave para as eleições de meio de mandato, para criticar essa posição republicana face à guerra.

"Eles [os republicanos] dizem que, se vencerem, provavelmente não continuarão a financiar a Ucrânia. Eles não entendem. Isto é muito maior que a Ucrânia. É a Europa Oriental. É a NATO", criticou Biden, avaliando que os republicanos "não entendem a política externa norte-americana".

Espera-se que o número daqueles que desconfiam da ajuda externa e adeptos da agenda 'America First' [América primeiro, na tradução para português] do ex-presidente Donald Trump cresça no Congresso a partir destas eleições.

Em setembro, JD Vance, candidato republicano ao Senado pelo estado de Ohio, disse que deseja que "os ucranianos sejam bem-sucedidos", mas não por causa do financiamento contínuo dos Estados Unidos.

"Acho que temos que chegar a um ponto, e é aí que discordamos. Temos que acabar com a torneira de dinheiro para a Ucrânia eventualmente. Não podemos financiar um conflito militar de longo prazo que acho que, em última análise, tem retornos decrescentes para nosso próprio país", afirmou, citado pelo jornal Washington Post.

Vance já havia provocado a fúria da comunidade ucraniana nos Estados Unidos quando disse num 'podcast', pouco antes da invasão russa, que "realmente não se importava com o que acontecia com a Ucrânia".

Porém, até mesmo dentro do próprio partido o assunto não é consensual, com um republicano de alto escalão no comité de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, Michael McCaul, que poderá liderar o comité no caso de uma vitória republicana em 08 de novembro, a argumentar que o fornecimento de armas para a Ucrânia deveria ser intensificado.

"Temos que lhes dar o que eles precisam. Quando lhes damos o que precisam, eles vencem", disse McCaul à Bloomberg, referindo-se ao Sistema de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS), que tem um alcance maior do que os mísseis que o executivo de Biden tem fornecido a Kyiv.

Embora a guerra na Ucrânia não tenha sido o foco central das campanhas eleitorais de ambos os partidos, é notório que a maioria dos candidatos que quer recuar no apoio a Kyiv integra o grupo de republicanos que negaram ou questionaram o resultado da última eleição presidencial, que deu a vitória a Biden contra Trump.

Sobre o conflito na Ucrânia, Trump tem mantido a retórica de que se estivesse no poder nunca teria havido guerra. Em 17 de setembro, num comício em Ohio, o republicano alertou que os Estados Unidos "podem acabar numa Terceira Guerra Mundial".

"Agora temos uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia com potencialmente centenas de milhares de pessoas a morrer, algo que nunca teria acontecido se eu fosse Presidente. Isso nunca teria acontecido se a eleição não tivesse sido manipulada", afirmou.

Os temores de que o apoio norte-americano diminua já chegaram a Kyiv.

Um alto funcionário ucraniano, que falou sob condição de anonimato ao Washington Post, disse que a dependência quase total da Ucrânia de ajuda militar e económica estrangeira significa que os seus militares devem recuperar rapidamente o máximo possível de território controlado pela Rússia antes de qualquer potencial abrandamento de apoio ocidental.

"As eleições intercalares dos Estados Unidos são um dos fatores que nos preocupam em relação ao inverno. A Rússia vai ganhar vantagem com o novo Congresso e com os europeus que os chantageiam na política energética. É por isso que a ofensiva atual é tão importante", disse o funcionário.

Leia Também: Rússia está a travar uma luta "sagrada" contra o "líder do inferno"

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