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Uma paz permanente na Etiópia será "muito difícil", diz Josep Borrell

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou hoje que um cessar-fogo permanente entre o Governo da Etiópia e as autoridades rebeldes do Tigray "vai ser muito difícil", depois da guerra "terrível" dos últimos dois anos, numa reunião dos G7.

Uma paz permanente na Etiópia será "muito difícil", diz Josep Borrell
Notícias ao Minuto

11:41 - 04/11/22 por Lusa

Mundo Josep Borrell

A trégua anunciada na quarta-feira na Etiópia para pôr fim à guerra mortal no norte do país é certamente "uma boa notícia", continuou Josep Borrell, alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, aos jornalistas à margem desta reunião de ministros dos negócios estrangeiros do G7 numa cidade alemã.

"Fazer a paz é mais fácil do que fazer a guerra", acrescentou o diploma, numa posição que é subscrita pela Human Rights Watch (HRW) que defende a uma "monitorização rigorosa" pelos atores internacionais, a fim de se assegurar que não haja mais violações dos direitos humanos.

"O escrutínio internacional será fundamental para assegurar que as partes em conflito, que cometeram abusos generalizados, não continuem a prejudicar os civis", disse Carine Kaneza Nantulya, diretora adjunta da organização para África, numa declaração, que coincide com o segundo aniversário da guerra.

Uma das promessas do acordo, assinado na quarta-feira, é o "acesso humanitário sem entraves", depois de Tigray ter sofrido um "bloqueio humanitário de facto" durante a maior parte do conflito, de acordo com as Nações Unidas.

HRW salientou que "dado que as autoridades etíopes têm negado desde o início da guerra que estavam a obstruir a ajuda humanitária na região do Tigray, será fundamental que a União Africana e outras entidades monitorizem o acordo para garantir que os obstáculos terminem.

A este respeito, o acordo de paz prevê a criação de um "mecanismo de monitorização, verificação e cumprimento para a implementação efetiva da cessação permanente das hostilidades" liderado pela União Africana (UA) com um mandato de seis meses, embora não especifique a data da sua criação.

"Os parceiros [internacionais] da Etiópia devem assegurar que qualquer mecanismo estabelecido para supervisionar o cumprimento da cessação das hostilidades inclua uma componente de monitorização dos direitos humanos e peritos em direitos de género para publicar relatórios públicos sobre a situação", de acordo com a HRW.

Borrell, acrescentou, ainda, que a União Europeia está pronta a ajudar "a União Africana nos seus esforços para restaurar a paz, a reconciliação e a recuperação" no país.

Embora tenha saudado a trégua, Borrell disse que se devia pensar também nas "dezenas de milhares, alguns números dizem mais de 100.000, que foram mortos e aqueles que sofreram atrocidades".

"O mundo está agora a olhar para a Ucrânia, mas o que aconteceu na Etiópia é certamente a pior crise humanitária e a pior guerra dos últimos dois anos", disse.

A organização também advertiu que o acordo não faz qualquer menção aos crimes cometidos no Tigray ocidental, onde a HRW e a Amnistia Internacional revelaram, em abril, que uma "campanha de limpeza étnica" contra o povo do Tigray - que se traduzia em crimes de guerra e crimes contra a humanidade - estava a decorrer nas mãos das forças de segurança da vizinha região de Amhara.

"As partes beligerantes devem facilitar o acesso imediato e seguro das agências humanitárias internacionais, incluindo aos locais de detenção formais e informais sem notificação prévia", exigiu HRW.

O Governo etíope e a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) assinaram na quarta-feira um acordo de paz, em Pretória, para cessar as hostilidades, na sequência de negociações iniciadas em 25 de outubro sob os auspícios da UA.

A guerra começou a 4 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva contra a FPLT no poder em resposta a um ataque a uma base militar federal e a uma escalada das tensões políticas.

Embora não tenham sido recolhidos números exactos devido a dificuldades de acesso e ao bloqueio das telecomunicações, milhares de pessoas foram mortas e cerca de dois milhões foram deslocadas pelo conflito.

A reunião dos ministros dos negócios estrangeiros do G7, que começou na quinta-feira, está em grande parte centrada na guerra ucraniana. Os ministros deverão também discutir a situação no Irão, que tem sido abalada durante quase dois meses por manifestações violentamente reprimidas, e as relações com o continente africano.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Gana e do Quénia e representantes da União Africana foram também convidados a visitar Monastério.

Leia Também: Etiópia. Acordo de paz deve "fazer justiça" às vítimas do conflito

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