Uma paz permanente na Etiópia será "muito difícil", diz Josep Borrell
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou hoje que um cessar-fogo permanente entre o Governo da Etiópia e as autoridades rebeldes do Tigray "vai ser muito difícil", depois da guerra "terrível" dos últimos dois anos, numa reunião dos G7.
© Thierry Monasse/Getty Images
Mundo Josep Borrell
A trégua anunciada na quarta-feira na Etiópia para pôr fim à guerra mortal no norte do país é certamente "uma boa notícia", continuou Josep Borrell, alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, aos jornalistas à margem desta reunião de ministros dos negócios estrangeiros do G7 numa cidade alemã.
"Fazer a paz é mais fácil do que fazer a guerra", acrescentou o diploma, numa posição que é subscrita pela Human Rights Watch (HRW) que defende a uma "monitorização rigorosa" pelos atores internacionais, a fim de se assegurar que não haja mais violações dos direitos humanos.
"O escrutínio internacional será fundamental para assegurar que as partes em conflito, que cometeram abusos generalizados, não continuem a prejudicar os civis", disse Carine Kaneza Nantulya, diretora adjunta da organização para África, numa declaração, que coincide com o segundo aniversário da guerra.
Uma das promessas do acordo, assinado na quarta-feira, é o "acesso humanitário sem entraves", depois de Tigray ter sofrido um "bloqueio humanitário de facto" durante a maior parte do conflito, de acordo com as Nações Unidas.
HRW salientou que "dado que as autoridades etíopes têm negado desde o início da guerra que estavam a obstruir a ajuda humanitária na região do Tigray, será fundamental que a União Africana e outras entidades monitorizem o acordo para garantir que os obstáculos terminem.
A este respeito, o acordo de paz prevê a criação de um "mecanismo de monitorização, verificação e cumprimento para a implementação efetiva da cessação permanente das hostilidades" liderado pela União Africana (UA) com um mandato de seis meses, embora não especifique a data da sua criação.
"Os parceiros [internacionais] da Etiópia devem assegurar que qualquer mecanismo estabelecido para supervisionar o cumprimento da cessação das hostilidades inclua uma componente de monitorização dos direitos humanos e peritos em direitos de género para publicar relatórios públicos sobre a situação", de acordo com a HRW.
Borrell, acrescentou, ainda, que a União Europeia está pronta a ajudar "a União Africana nos seus esforços para restaurar a paz, a reconciliação e a recuperação" no país.
Embora tenha saudado a trégua, Borrell disse que se devia pensar também nas "dezenas de milhares, alguns números dizem mais de 100.000, que foram mortos e aqueles que sofreram atrocidades".
"O mundo está agora a olhar para a Ucrânia, mas o que aconteceu na Etiópia é certamente a pior crise humanitária e a pior guerra dos últimos dois anos", disse.
A organização também advertiu que o acordo não faz qualquer menção aos crimes cometidos no Tigray ocidental, onde a HRW e a Amnistia Internacional revelaram, em abril, que uma "campanha de limpeza étnica" contra o povo do Tigray - que se traduzia em crimes de guerra e crimes contra a humanidade - estava a decorrer nas mãos das forças de segurança da vizinha região de Amhara.
"As partes beligerantes devem facilitar o acesso imediato e seguro das agências humanitárias internacionais, incluindo aos locais de detenção formais e informais sem notificação prévia", exigiu HRW.
O Governo etíope e a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) assinaram na quarta-feira um acordo de paz, em Pretória, para cessar as hostilidades, na sequência de negociações iniciadas em 25 de outubro sob os auspícios da UA.
A guerra começou a 4 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva contra a FPLT no poder em resposta a um ataque a uma base militar federal e a uma escalada das tensões políticas.
Embora não tenham sido recolhidos números exactos devido a dificuldades de acesso e ao bloqueio das telecomunicações, milhares de pessoas foram mortas e cerca de dois milhões foram deslocadas pelo conflito.
A reunião dos ministros dos negócios estrangeiros do G7, que começou na quinta-feira, está em grande parte centrada na guerra ucraniana. Os ministros deverão também discutir a situação no Irão, que tem sido abalada durante quase dois meses por manifestações violentamente reprimidas, e as relações com o continente africano.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Gana e do Quénia e representantes da União Africana foram também convidados a visitar Monastério.
Leia Também: Etiópia. Acordo de paz deve "fazer justiça" às vítimas do conflito
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com