Numa intervenção numa conferência das Nações Unidas sobre a segurança dos profissionais de comunicação social, em Viena, Muratov indicou que esse "genocídio" na Rússia levou ao encerramento de 269 jornais, realçando que os jornalistas independentes são tratados pelo Kremlin como "inimigos do povo".
"A palavra imprensa que aparece no colete dos repórteres" é agora um fator que aumenta as hipóteses de ser morto, afirmou o diretor do jornal Novaya Gazeta, fundado em 1993 e um dos mais críticos do regime do Presidente russo, Vladimir Putin, o que levou o Kremlin a encerrá-lo.
Face a esta situação, Muratov afirmou que muitos dos seus colegas russos preferem "retirar o colete de imprensa" ou procurarem exilar-se para poderem trabalhar a partir do exterior da Rússia.
"O mundo está a caminhar para a autocracia graças ao espaço criado pelo inimigo do jornalismo independente, a propaganda", frisou Muratov aos participantes da conferência.
Ao longo da intervenção, o vencedor do Nobel da Paz do ano passado também denunciou o estado do jornalismo independente na Rússia, que foi "praticamente eliminado", e o financiamento milionário que a imprensa estatal recebe para impor a propaganda oficial sobre a invasão da Ucrânia.
Segundo Muratov, a televisão estatal Russia Today, "cujo orçamento médio é de 469 milhões de euros", incitou ao "genocídio" da população ucraniana.
Como exemplo, citou a intervenção num debate de um dos apresentadores do canal, Anton Krasovski, que pediu para afogar ou queimar vivas as crianças ucranianas que se referem às tropas russas como invasoras.
O ataque ao jornalismo independente tem por objetivo "dar à propaganda o monopólio da informação" para "poluir as mentes" dos russos, acrescentou.
"Pelo menos 269 meios de comunicação independentes na Rússia foram eliminados e mais de 140 jornalistas foram acusados de serem inimigos do povo ou agentes europeus", acrescentou o jornalista.
Nesse sentido, Muratov exortou as Nações Unidas a criar uma fundação para financiar as investigações de jornalistas perseguidos.
Além de Muratov, o Nobel da Paz de 2021 foi entregue também à jornalista filipino-norte-americana Maria Angelita Ressa, cofundadora do 'website' jornalístico Rappler, do qual é diretora executiva.
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