De acordo com Hanyasha, em declarações à Comissão de Inquérito das Nações Unidas para a Palestina, os soldados israelitas começaram a disparar contra o grupo de jornalistas que tinha entrado no campo de refugiados em Jenin, apesar de lhes ter ado inicialmente um livre-trânsito para entrarem.
"Noutras ocasiões, disparam tiros de aviso no ar, mas não desta vez", disse Hanyasha, observando que os jornalistas, vestidos com coletes de imprensa, passaram alguns minutos a certificar-se de que os soldados os viam.
Não obstante, momentos depois, ao caminharem perto de uma fábrica, em conversas animadas, começaram a ser alvos de disparos, recordou a jornalista, que disse sofrer de distúrbios de stress pós-traumático em resultado dos acontecimentos de 11 de Maio.
"Vi Shireen deitada no chão e tentei alcançá-la, mas comecei a sentir tiros à minha volta e vi uma poça de sangue começar a formar-se debaixo da sua cabeça, por isso sabia que ela estava morta", descreveu.
A jornalista, agora a viver em Beirute, disse que Shireen Abu Akleh foi para si uma inspiração durante anos para prosseguir o jornalismo, mas após o seu assassinato é-lhe impossível continuar a trabalhar.
"Não consigo sequer pegar numa câmara, nem mesmo para fotografar uma flor", disse Hanyasha à comissão de inquérito, considerando o caso de Abu Akleh um exemplo do assédio que os jornalistas palestinianos sofrem por parte das forças de ocupação israelitas.
"Muitos jornalistas foram presos, feridos, mortos, e diariamente assediados e espancados, cada vez que tentam trabalhar no terreno", disse a repórter, manifestando a esperança de que o seu testemunho permita que se faça justiça e que os responsáveis pelo assassinato de Abu Akleh sejam responsabilizados pelo crime.
Hanyasha participou no último dia aberto à recolha de testemunhos, que decorre desde esta segunda-feira em Genebra, pela Comissão de Inquérito da ONU para a Palestina, presidida pelo juiz sul-africano Navi Pillay, que centrou as suas audiências no assassinato e no recente assédio sofrido por organizações não-governamentais (ONG) palestinianas de direitos humanos.
Os membros da comissão, criada em 2021 pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU para investigar abusos cometidos em Israel e na Palestina, deixaram claro que as audições desta semana não fazem parte de qualquer julgamento.
Serão, contudo, utilizados como base para relatórios que o grupo de peritos apresentará em 2023 ao Conselho de Direitos Humanos e à Assembleia Geral da ONU, documentos que poderão eventualmente ser utilizados em futuros processos judiciais nacionais e internacionais.
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