O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu, este sábado, aos países do Sudeste Asiático que tomem todas as medidas possíveis para impedir que a Rússia faça 'jogos da fome' devido a um acordo de transporte de cereais e de outros alimentos através do Mar Negro, que pode expirar na próxima semana, se a Rússia ou a Ucrânia se opuserem à sua extensão.
Dmytro Kuleba referiu, citado pela Reuters, que deveriam ser tomadas medidas para garantir que os embarques não sejam atrasados intencionalmente e, por isso, obrigassem os preços globais a subir.
"Não basta apenas manter a Rússia a bordo. Também é importante garantir que os inspetores russos que participam nesta iniciativa atuem de boa fé e inspecionem os navios sem atrasos artificiais. Peço a todos os membros da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] que usem todos os métodos possíveis para impedir a Rússia de jogar ‘jogos de fome’ com o mundo", afirmou.
Este acordo, concluído sob a égide da ONU e da Turquia em julho, permitiu desbloquear as exportações dos cereais ucranianos que foram prejudicadas pela ofensiva que Moscovo está a liderar naquele país.
"Prevê-se que o primeiro carregamento de fertilizantes doados partirá para o Malawi na próxima semana. A ONU continua empenhada em lidar com a crise global do mercado de fertilizantes, onde os agricultores, especialmente os pequenos agricultores do mundo em desenvolvimento, ficam sem produção devido aos altos custos dos mesmos", indica o comunicado da Organização das Nações Unidas.
Entretanto, as autoridades russas reclamam regularmente de obstáculos persistentes às suas próprias exportações de cereais e fertilizantes devido às sanções ocidentais, acreditando que o acordo não é aplicado no que diz respeito à Rússia.
Além disso, Moscovo também questiona se o acordo realmente beneficiou os países mais pobres - onde a crise alimentar se agravou devido ao aumento dos preços dos alimentos essenciais após o início da guerra na Ucrânia - e apontou que as exportações foram massivamente para países ricos.
"O mundo não pode permitir que os problemas globais de acessibilidade de fertilizantes se tornem uma escassez global de alimentos, portanto, a ONU pede a todos os atores que agilizem a remoção de quaisquer impedimentos remanescentes à exportação e transporte de fertilizantes para os países mais necessitados", concluiu a ONU na nota.
Cerca de 10 milhões de toneladas de cereais e outros alimentos da Ucrânia e da Rússia já foram exportados através deste acordo, informou a ONU na semana passada.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.490 civis mortos e 9.972 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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