O final de tarde de terça-feira ficou marcado pela notícia de que um míssil terá atingido o território da Polónia, provocando pelo menos dois mortos. Segundo a informação inicialmente avançada por um alto funcionário da inteligência dos Estados Unidos, em causa estaria uma iniciativa que seria da responsabilidade da Rússia.
Porém, neste momento ainda existem muitas dúvidas acerca daquilo que realmente aconteceu em Przewodów, uma vila polaca localizada perto da fronteira com a Ucrânia. Terá este sido um ataque ou uma ocorrência acidental que afetou, pela primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia, um país membro da NATO?
O incidente motivou o primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, a convocar, de imediato, uma reunião de emergência do comitê para assuntos de segurança e defesa nacional. Lukasz Jasina, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, apressou-se a esclarecer que o projétil que atingiu o território do país se tratava de um "míssil de fabrico russo" - razão que o motivou a pedir "explicações detalhadas" ao embaixador russo na Polónia.
Mal se soube o que tinha acontecido, o Pentágono disse, no entanto, que preferia não entrar em especulações sobre o que realmente aconteceu na Polónia, tendo imediatamente explicado que o Departamento de Defesa do país estava ainda a analisar os dados relativos ao incidente. Porém, perante a possibilidade de se tratar de um ataque russo, o porta-voz John Kirby disse que os Estados Unidos estavam prontos para defender "cada centímetro do território da NATO".
A Ucrânia, pela voz do seu presidente, Volodymyr Zelensky, apressou-se a atribuir ao Kremlin as culpas pela queda de um míssil em território polaco. O líder ucraniano classificou o incidente como se tratando de um "ataque de mísseis russos à segurança coletiva" e, consequentemente, uma "escalada muito significativa" no conflito que teve início a 24 de fevereiro em território ucraniano.
Também o principal conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhaylo Podolyak, recorreu à rede social Twitter para dar conta de que este se terá tratado de um ataque. "Ataques em território polaco - não um acidente, mas um 'olá' deliberadamente planeado da Federação Russa, disfarçado de 'erro'", argumentou.
Strikes on 🇵🇱 territory — not an accident, but a deliberately planned "hello" from RF, disguised as a "mistake". It happens when evil goes unpunished & politicians engage in "pacification" of aggressor. Ru-terrorist regime must be stopped. Condolences to the victims' relatives.
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) November 15, 2022
Mas o Ministério da Defesa da Rússia prontamente refutou tais acusações, classificando-as como se tratando de uma "provocação deliberada para escalar a situação" e negando quaisquer responsabilidades pelo sucedido. "Nenhum ataque foi realizado contra alvos perto da fronteira entre a Polónia e a Ucrânia através de meios de destruição russos", garantiu a mesma fonte.
Já esta quarta-feira, seria a vez do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmar que seria "improvável" que tal projétil "tenha sido disparado da Rússia" - citando, para tal, "informações preliminares que contestam" essa acusação.
Informação essa que viria, depois, a ser corroborada pelo próprio Pentágono. A fonte norte-americana revelou que as primeiras investigações, com base na trajetória e tipologia (S-300) do míssil, apontam para que o mesmo tenha sido disparado pela Ucrânia. Posto isto, os Estados Unidos acreditam que o mesmo terá sido acionado pelas defesas aéreas ucranianas quando tentavam intercetar um projétil disparado por Moscovo.
O primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, anunciou ainda, por sua vez, que o país se preparava para "aumentar a vigilância do seu espaço aéreo" devido a esta ocorrência, numa altura em que está já a ser levada a cabo uma investigação sobre as causas do sucedido. Os "serviços de emergência e guarda fronteiriça" polacos foram, também, colocados "em alerta".
A ocorrência subiu, ainda, o nível de tensão noutros países do leste europeu. A título de exemplo, o governo húngaro apressou-se a convocar, de modo semelhante, o Conselho de Defesa na terça-feira, "em resposta ao míssil que atingiu território da Polónia".
In response to the stop in oil transfer through the Druzhba pipeline and the missile hitting territory of Poland, @PM_ViktorOrban has convened HU's Defense Council for 8 p.m.
— Zoltan Kovacs (@zoltanspox) November 15, 2022
O 'papel' da NATO e do G20
Mas não só. Também os líderes europeus presentes na cimeira do G20, os membros do G7 e os embaixadores da NATO vão reunir de emergência, esta quarta-feira, de modo independente, estando na ordem de trabalhos esta ocorrência que atingiu território da NATO.
Os líderes do G7 e da NATO, note-se, já se disponibilizaram para apoiar o desenvolvimento de uma investigação sobre a queda do míssil em território polaco - o que irá permitir determinar, com maior detalhe, o que efetivamente aconteceu.
Apesar de ser já certo que o país pode acionar o artigo 4 da NATO, que determina que os membros da aliança "consultar-se-ão sempre que, na opinião de qualquer delas, estiver ameaçada a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das partes", é pouco provável que possa acontecer mais do que isso - ou, por outras palavras, a invocação do artigo 5.
Para que o mesmo seja invocado, seria necessário que as partes concordassem "que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51.° da Carta das Nações Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas".
Este incidente na Polónia aconteceu no mesmo dia em que várias cidades ucranianas, como Kyiv, Lviv e Kharkiv, foram alvo de fortes bombardeamentos.
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