Rosatom critica postura da AIEA após ataques a central de Zaporíjia

A empresa estatal russa Rosatom criticou hoje a postura da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e do seu diretor-geral, após o mais recente ataque à central nuclear de Zaporíjia, em território ucraniano e controlada por militares russos, pelo qual Rússia e Ucrânia se culpam mutuamente.

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Lusa
21/11/2022 21:24 ‧ 21/11/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

Em declarações num programa do Primeiro Canal russo, o diretor-geral da Rosatom, Alexei Likhatchov, criticou o teor de uma declaração da AIEA, a agência nuclear da ONU, por não mencionar a alegada origem ucraniana dos mísseis que atingiram a central e por exortar a Rússia a "retirar todo o seu pessoal das instalações nucleares de Zaporíjia". 

O programa Vremia mostrou um vídeo em que o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, diz que a "Rússia deve parar de danificar a central atómica" e, dirigindo-se aos russos: "Vão-se embora que isto não é vosso".

Intervindo por vídeo-conferência no programa diário 'Grande Jogo', no Primeiro Canal, Renat Kartchaa, conselheiro do diretor-geral da Rosatom, disse que "estão no terreno quatro elementos (da AIEA) que sabem bem de onde vêm os mísseis, mas nada denunciam por estarem sob forte pressão política, nomeadamente da parte dos Estados Unidos".

A Rosatom trata de todos os assuntos relacionados com a energia nuclear e acompanha a delegação da AIEA que está na referida central ocupada pela Rússia.

Kartchaa acusou forças ucranianas de terem desencadeado na tarde de domingo um ataque maciço contra Zaporíjia, tendo 12 mísseis alegadamente atingido as instalações.

Destes, seis terão atingido o sistema de refrigeração da central, dois o depósito seco de resíduos nucleares e três um ponto de controlo, referiu.

"Apesar deste golpe maciço, não se registaram vítimas entre o pessoal que assegura o funcionamento da central", disse Kartchaa.  

Alexei Anpilogov, perito nuclear, disse no programa Vremia (Tempo) que no ataque à central de Zaporíjia "dois dos dez contentores que encerram hermeticamente resíduos nucleares foram danificados".

A continuar assim, adiantou, os "resíduos nucleares podem chegar às águas do rio Dniepre, que os levará a todos os pontos do planeta".

A AIEA informou hoje que, apesar dos fortes bombardeamentos sofridos no fim de semana pela central de Zaporíjia, não existem "preocupações imediatas de segurança".

"O estado das seis unidades do reator é estável, e foi confirmada a integridade do combustível usado, do combustível fresco e dos resíduos radioativos de baixa, média e alta atividades nos respetivos armazéns", indicou a AIEA num comunicado.

Os quatro especialistas internacionais que se encontram na maior central nuclear da Europa -- sob ocupação russa -- receberam primeiro informação da direção e depois realizaram uma inspeção para ver em primeira mão os danos causados pelos bombardeamentos de sábado e domingo.

Grossi considerou no domingo que os ataques à central de Zaporíjia foram "absolutamente deliberados, direcionados" e classificou a situação como "extremamente grave".

"Uma boa dúzia de ataques" atingiu a central, segundo Grossi, que, sem atribuir responsabilidade às forças russas ou ucranianas, ficou indignado por haver quem considere uma central nuclear "um alvo militar legítimo".

"Seja quem for, pare com essa loucura", exortou Rafael Grossi, que insistiu: "Quem faz isto sabe perfeitamente o que pretende atingir. É absolutamente deliberado e direcionado".

A Rússia e a Ucrânia trocaram acusações sobre a autoria dos ataques.

"A central está na linha de frente, há atividades militares que são muito difíceis de identificar, há pessoal russo e ucraniano em operação", disse Grossi numa entrevista ao canal de televisão francês BFMTV.

A Rússia, que invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, ocupa militarmente o território da central e o Presidente russo, Vladimir Putin, reivindicou a sua anexação, bem como a de quatro regiões ucranianas.

Ao longo dos últimos meses, Moscovo e Kiev têm trocado acusações sobre ataques em Zaporíjia.

Leia Também: AIEA não deteta riscos de segurança em Zaporíjia após bombardeamentos

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