A geografia é apenas uma das três desigualdades identificadas no mais recente relatório global do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre crianças, VIH e Sida divulgado hoje a propósito do Dia Mundial da Sida, que se assinala na próxima quinta-feira.
"Na sua maioria, três desigualdades relacionadas com a geografia, o género e a pobreza exercem o maior impacto nas crianças e adolescentes afetados pelo VIH", refere-se no documento, acrescentando-se: "Onde uma criança nasce, o seu género, e o seu acesso a recursos são os principais preditores da sua vulnerabilidade ao VIH, da sua saúde e segurança em geral, do acesso que têm à educação e da probabilidade de permanecerem na pobreza".
Para os autores do documento, as maiores disparidades permaneçam entre as regiões, com as mulheres grávidas e lactantes a contarem com uma cobertura de tratamentos antirretrovirais (ART, da sigla em inglês de antiretroviral therapy) de 60% na África ocidental e central e de 89% na África oriental e austral.
"Esta disparidade é uma razão fundamental para que a África Ocidental e Central tenha uma parte desproporcionada das novas infeções em crianças (33% do total global), embora o peso global do VIH na região seja relativamente baixo", lê-se no relatório.
Como grupo, as raparigas têm o triplo da taxa de novas infeções pelo VIH, quando comparadas com os seus pares masculinos.
E o equilíbrio de género entre rapazes e raparigas também varia conforme as regiões. Na Europa oriental e Ásia central, África oriental e austral e África ocidental e central a maioria das novas infeções entre adolescentes entre os 10-19 anos de idade ocorreram em raparigas.
Nestas três regiões, as raparigas foram responsáveis por 79% das novas infeções em adolescentes.
Em contraste, as novas infeções foram divididas quase igualmente entre os géneros na Ásia do Sul e na América Latina e Caraíbas, enquanto os rapazes adolescentes constituíram uma maioria significativa (62%) das novas infeções entre adolescentes na Ásia oriental e no Pacífico.
Segundo a Unicef, e tal como acontece com os adultos, "as crianças e adolescentes são mais vulneráveis ao VIH na África subsaariana", que registava, em 2021, seis em cada sete (86%) de todas as crianças e adolescentes, dos 0 aos 19 anos de idade, com VIH. Destes, três quartos viviam na África oriental e austral.
A cobertura dos serviços de prevenção da transmissão vertical e de diagnóstico e tratamento de crianças e adolescentes com VIH "varia consideravelmente de região para região, dentro de regiões e muitas vezes mesmo dentro de países".
As duas regiões da África ocidental e central e da África oriental e austral representavam, em 2021, 92% das cerca de 800.000 crianças com o VIH com idades compreendidas entre os 0-14 anos que não estavam em tratamento.
"A maioria das mortes de crianças a nível mundial relacionadas com a sida ocorreram na África oriental e austral (47% do total) e na África ocidental e central (39% do total)", lê-se no relatório.
Do continente africano chegou a boa notícia de que, em 2021, o Botsuana se tornou o primeiro país com uma elevada incidência de VIH a ser reconhecido como estando no "caminho para a eliminação" da transmissão vertical do VIH.
Este país assegurou que 89% de todas as mulheres grávidas e a amamentar que vivem com o VIH estejam a receber tratamento antirretroviral, perto do objetivo de 95% de cobertura para 2025.
Na Ásia do sul, 92% de todas as crianças que vivem com o VIH recebiam ART em 2021, perto da meta de 95% para 2025 e um aumento de cinco vezes em relação a apenas 18% em 2010.
"Estes êxitos impressionantes são a prova de que o esforço global para acabar com a sida entre as crianças é exequível", escrevem os autores.
Segundo a Unicef, cerca de 110.000 crianças e adolescentes (0-19 anos) morreram de causas relacionadas com a sida em 2021 e outras 310.000 foram recentemente infetadas, elevando o número total de crianças e jovens que vivem com o VIH para 2,7 milhões.
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