"Falo-vos no momento mais difícil do meu governo, humilhado, incomunicável, maltratado e raptado, mas revestido da vossa confiança e luta (...) mas também imbuído do espírito glorioso dos nossos antepassados", sublinhou Castillo numa carta divulgada através da sua conta na rede social Twitter.
Horas antes, a procuradora-geral do Peru, Patricia Benavides, tinha apresentado uma queixa constitucional contra Castillo e três dos seus ministros perante o Congresso (Parlamento), pela alegada prática de crimes como rebelião e conspiração.
Neste documento, Castillo é apontado como "alegado co-autor do crime contra os poderes do Estado e a ordem constitucional-rebelião" e "alternativamente, pelo crime contra os poderes do Estado e a ordem constitucional-conspiração", noticiou a agência Efe.
O ex-chefe de Estado continua detido numa prisão de Lima depois de ter sido destituído na quarta-feira pelo Congresso, após ter determinado a dissolução deste mesmo órgão e anunciar que formaria um governo de emergência, que governaria por decreto, convocaria uma assembleia constituinte e faria uma reorganização do sistema judicial.
Desde então iniciaram-se protestos no interior do Peru para exigir a renúncia da nova Presidente do Peru, Dina Boluarte, que foi empossada como chefe de Estado após a exoneração de Castillo.
Um terceiro manifestante morreu hoje nos protestos, confirmou o presidente do Congresso, José Williams, sem fornecer mais detalhes sobre o caso.
Perante esta situação, Castillo referiu na sua carta que é "incondicionalmente fiel ao mandato popular e constitucional" que afirma exercer "como Presidente" e afirmou que não renunciará às suas "altas e sagradas funções".
Pedro Castillo dirigiu ainda criticas a Boluarte, questionando, em particular, a proposta da nova Presidente para antecipar as eleições gerais para abril de 2024.
"O que foi dito recentemente por uma usurpadora não passa da mesma baba e ranho da direita golpista. O povo não deve cair no jogo sujo de novas eleições", salientou.
Castillo apelou ainda ao final dos "abusos" e exigiu a convocatória de uma assembleia constituinte e a sua "libertação imediata".
As manifestações no Peru intensificaram-se hoje com o bloqueio do aeroporto da segunda maior cidade e cortes de estradas por todo o país num amplo movimento popular e indígena que contesta a elite política de Lima, a capital.
O anúncio da nova Presidente de convocar eleições gerais para abril de 2024, ao contrário de 2026 como indicou inicialmente, não acalmaram a contestação popular.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos manifestou "preocupação pelo facto de a situação se poder agravar" e apelou "a todas as pessoas envolvidas para demonstrarem contenção".
O organismo da ONU revelou ainda que "jornalistas que cobriam as manifestações foram alvo dos manifestantes e da polícia", com "diversos a ficarem feridos" e "casos em que a polícia parece ter recorrido a um uso inútil e desproporcionado da força".
No sábado, Boluarte formou um governo "independente e técnico" com Pedro Angulo, um antigo procurador, como primeiro-ministro e declarou o estado de emergência nas zonas onde os protestos e manifestações são mais intensos.
A elite política e a oligarquia de Lima sempre desdenharam Castillo, um professor rural de origem indígena e dirigente sindical sem ligações às elites, sobretudo apoiado pelas regiões andinas desde as eleições presidenciais que venceu por curta margem na segunda volta contra a candidata de extrema-direita Keiko Fujimori, a filha do anterior presidente Alberto Fujimori, condenado em 2009 a 25 anos de prisão, que não cumpriu na totalidade.
Os sindicatos rurais e organizações sociais camponesas e indígenas apelaram no domingo a uma "greve ilimitada" a partir de terça-feira. Em comunicado, a Frente Agrária exigiu a "libertação imediata" de Castillo.
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