"Raptado". Ex-presidente do Peru acusa nova líder de ser "usurpadora"

O ex-presidente peruano, Pedro Castillo, que se encontra detido desde que foi acusado de tentativa de golpe de Estado, denunciou segunda-feira que está sequestrado e acusou a nova Presidente, Dina Boluarte, de ser "usurpadora".

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© Carlos Garcia Granthon/Fotoholica Press/LightRocket via Getty Images

Lusa
13/12/2022 07:49 ‧ 13/12/2022 por Lusa

Mundo

Peru

"Falo-vos no momento mais difícil do meu governo, humilhado, incomunicável, maltratado e raptado, mas revestido da vossa confiança e luta (...) mas também imbuído do espírito glorioso dos nossos antepassados", sublinhou Castillo numa carta divulgada através da sua conta na rede social Twitter.

Horas antes, a procuradora-geral do Peru, Patricia Benavides, tinha apresentado uma queixa constitucional contra Castillo e três dos seus ministros perante o Congresso (Parlamento), pela alegada prática de crimes como rebelião e conspiração.

Neste documento, Castillo é apontado como "alegado co-autor do crime contra os poderes do Estado e a ordem constitucional-rebelião" e "alternativamente, pelo crime contra os poderes do Estado e a ordem constitucional-conspiração", noticiou a agência Efe.

O ex-chefe de Estado continua detido numa prisão de Lima depois de ter sido destituído na quarta-feira pelo Congresso, após ter determinado a dissolução deste mesmo órgão e anunciar que formaria um governo de emergência, que governaria por decreto, convocaria uma assembleia constituinte e faria uma reorganização do sistema judicial.

Desde então iniciaram-se protestos no interior do Peru para exigir a renúncia da nova Presidente do Peru, Dina Boluarte, que foi empossada como chefe de Estado após a exoneração de Castillo.

Um terceiro manifestante morreu hoje nos protestos, confirmou o presidente do Congresso, José Williams, sem fornecer mais detalhes sobre o caso.

Perante esta situação, Castillo referiu na sua carta que é "incondicionalmente fiel ao mandato popular e constitucional" que afirma exercer "como Presidente" e afirmou que não renunciará às suas "altas e sagradas funções".

Pedro Castillo dirigiu ainda criticas a Boluarte, questionando, em particular, a proposta da nova Presidente para antecipar as eleições gerais para abril de 2024.

"O que foi dito recentemente por uma usurpadora não passa da mesma baba e ranho da direita golpista. O povo não deve cair no jogo sujo de novas eleições", salientou.

Castillo apelou ainda ao final dos "abusos" e exigiu a convocatória de uma assembleia constituinte e a sua "libertação imediata".

As manifestações no Peru intensificaram-se hoje com o bloqueio do aeroporto da segunda maior cidade e cortes de estradas por todo o país num amplo movimento popular e indígena que contesta a elite política de Lima, a capital.

O anúncio da nova Presidente de convocar eleições gerais para abril de 2024, ao contrário de 2026 como indicou inicialmente, não acalmaram a contestação popular.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos manifestou "preocupação pelo facto de a situação se poder agravar" e apelou "a todas as pessoas envolvidas para demonstrarem contenção".

O organismo da ONU revelou ainda que "jornalistas que cobriam as manifestações foram alvo dos manifestantes e da polícia", com "diversos a ficarem feridos" e "casos em que a polícia parece ter recorrido a um uso inútil e desproporcionado da força".

No sábado, Boluarte formou um governo "independente e técnico" com Pedro Angulo, um antigo procurador, como primeiro-ministro e declarou o estado de emergência nas zonas onde os protestos e manifestações são mais intensos.

A elite política e a oligarquia de Lima sempre desdenharam Castillo, um professor rural de origem indígena e dirigente sindical sem ligações às elites, sobretudo apoiado pelas regiões andinas desde as eleições presidenciais que venceu por curta margem na segunda volta contra a candidata de extrema-direita Keiko Fujimori, a filha do anterior presidente Alberto Fujimori, condenado em 2009 a 25 anos de prisão, que não cumpriu na totalidade.

Os sindicatos rurais e organizações sociais camponesas e indígenas apelaram no domingo a uma "greve ilimitada" a partir de terça-feira. Em comunicado, a Frente Agrária exigiu a "libertação imediata" de Castillo.

Leia Também: Pelo menos cinco mortos em manifestações na segunda-feira no sul do Peru

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