No debate no parlamento que antecede o Conselho Europeu de quinta-feira, o último a ser realizado em 2022, o deputado social-democrata Sérgio Marques disse que viu "indiferença e insensibilidade" em palavras do primeiro-ministro sobre a Ucrânia por ter dito que a União Europeia (UE) não dispõe das condições orçamentais e institucionais para cumprir o alargamento.
"Podemos, obviamente, debater essa questão. Posso até entender as suas razões. Mas a oportunidade não podia ter sido pior", já que as tropas russas intensificaram os ataques à Ucrânia, disse o deputado, sublinhando que o PSD espera do Conselho Europeu um reforço de toda a ajuda aos ucranianos.
Na resposta, António Costa afirmou que Portugal "foi inequívoco a condenar desde a primeira hora a invasão" e tem dado "apoio inequívoco e continuado à Ucrânia", mas insistiu que há condições a cumprir, de ambos os lados, para avançar com um alargamento da UE.
"Não nos limitamos a ser solidários. Somos verdadeiros. Quando convidamos alguém para a nossa casa, temos o cuidado de ter a nossa casa em ordem", disse Costa, usando esta imagem para reiterar que as instituições europeias precisam de reformas antes de novo alargamento.
Também o deputado comunista Bruno Dias levantou o tema da guerra na Ucrânia e questionou se "o Governo acha que há uma solução militar para o conflito", vendo como apoio a esta solução o reforço da ajuda militar concedida a Kyiv pela UE.
O primeiro-ministro respondeu que "nunca há solução militar para nenhum problema".
"E é por isso que, desde a primeira hora, o Partido Comunista Português devia ter recusado a solução militar que a Rússia adotou, invadindo a Ucrânia", ripostou ainda António Costa.
O apoio da UE à Ucrânia face à agressão militar russa e questões energéticas dominam o último Conselho Europeu de 2022, que decorre na quinta-feira em Bruxelas, à imagem do sucedido ao longo de praticamente todo o ano.
Na carta-convite dirigida aos 27 chefes de Estado ou de Governo da UE, entre os quais o primeiro-ministro António Costa, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apontou que "a Ucrânia está, como sempre, no centro das preocupações".
"A escalada militar da Rússia desde 10 de outubro, com os seus repetidos ataques às instalações e infraestruturas energéticas críticas da Ucrânia, causou enormes danos à rede elétrica da Ucrânia. Milhões de civis estão sem eletricidade, aquecimento e água corrente. A situação, exacerbada pela neve e temperaturas negativas, exige uma resposta adequada da nossa parte, incluindo em termos de preparação e assistência humanitária", escreveu o dirigente belga, dirigindo-se às capitais europeias.
Os 27 conseguiram na segunda-feira um compromisso que permite levantar os vetos da Hungria a algumas matérias que o bloco comunitário quer fechar com caráter de urgência nesta última cimeira do ano, como é o caso da ajuda macrofinanceira de 18 mil milhões de euros à Ucrânia para 2023.
A 24 de fevereiro deste ano, a Rússia invadiu a Ucrânia, desencadeando uma guerra que mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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