"É muito claro que a maneira como o Irão reagiu aos protestos é totalmente inaceitável e estamos a testemunhar violações maciças dos direitos humanos, que condenamos veementemente", disse Guterres numa conferência de imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque.
O chefe das Nações Unidas garantiu que já transmitiu a sua visão mais do que uma vez às autoridades iranianas e destacou que toda a situação está intimamente ligada com a questão da igualdade de género, que é uma das suas prioridades à frente das Nações Unidas.
Desde o início das manifestações após a morte da jovem Mahsa Amini - detida por uso incorreto do véu e que morreu sob custódia policial em meados de setembro -, a organização insiste que o Irão deve respeitar o direito ao protesto pacífico e critica o uso excessivo da força por parte dos agentes de segurança.
Segundo a organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights, com sede em Oslo, nestes três meses de protestos pelo menos 400 pessoas já morreram e cerca de 15.000 pessoas foram detidas.
Entre os mortos há pelo menos 44 menores, 34 deles por disparos com munições na cabeça ou órgãos vitais, segundo a ONG Amnistia Internacional (AI).
Além disso, as autoridades iranianas já executaram duas pessoas condenadas pela sua participação nos protestos, ação também criticada pela ONU e outras organizações internacionais.
Por outro lado, Guterres foi questionado hoje sobre a situação do acordo nuclear selado em 2015 por Teerão e pelas potências internacionais, cuja recuperação está a ser negociada há meses depois de ter sido abandonada em 2018 pelo ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo o líder da ONU, neste momento existe um "grave risco" de se perder totalmente esse acordo, algo que na sua opinião "seria um fator muito negativo para a paz e estabilidade na região e para além dela".
Por isso, garantiu que a ONU está a fazer todos os possíveis para tentar salvar o acordo que garante o caráter civil do programa nuclear do Irão, apesar de ter poucos poderes na matéria.
Na terça-feira terá início na Jordânia uma conferência regional que o ministro das Relações Exteriores iraniano considerou hoje uma "oportunidade" para relançar as negociações sobre o programa nuclear iraniana.
As negociações estão paradas, mas a reunião entre vários países do Médio Oriente na Jordânia pode permitir a retoma das negociações, disse o chefe da diplomacia iraniana, Hossein Amir-Abdollahian.
Josep Borrell, o chefe da diplomacia da União Europeia que coordena as negociações sobre o nuclear iraniano, estará presente na Jordânia, assim como Amir-Abdollahian.
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