Donald Trump diz que recomendação de acusação criminal o fortalece
O ex-presidente norte-americano Donald Trump disse que ser acusado de quatro crimes pela comissão que investiga o ataque ao Capitólio o fortalece e acusou o painel de querer impedi-lo de se recandidatar à presidência.
© Lusa
Mundo Trump
"Esta gente não percebe que, quando vêm atrás de mim, as pessoas que amam a liberdade defendem-me", escreveu esta madrugada o ex-presidente em comunicado, partilhado na sua rede social Truth Social. "Isto fortalece-me. O que não me mata torna-me mais forte".
Trump argumentou que tentou enviar 20 mil militares para evitar a violência no 06 de janeiro e que foi à televisão dizer a todos para irem embora. Falou de uma "agência de investigação dos democratas" que quer impedi-lo de voltar a candidatar-se "porque sabem que vou ganhar" e que as acusações são "uma tentativa partidária" de o pôr a ele e ao partido republicano de lado.
Na última audiência pública e após uma investigação de 18 meses, a comissão que investiga o 06 de janeiro votou para enviar ao Departamento de Justiça a recomendação de acusação por quatro crimes que disse terem sido cometidos por Donald Trump: incitamento à insurreição, conspiração para fraude, obstrução de ato do Congresso e falsas declarações.
As reações a este avanço sem precedentes na história dos Estados Unidos oscilaram entre os que denunciaram motivações políticas e os que elogiaram as evidências reveladas.
"Ninguém está acima da lei. Nem sequer um ex-presidente dos Estados Unidos", disse a senadora democrata Elizabeth Warren.
Também a congressista luso-americana Lori Loureiro Trahan disse, em comunicado, que a decisão "é uma prova de que os pilares da nossa democracia são fortes" e que ainda há membros dos dois partidos "dispostos a honrarem o juramento à Constituição".
Mas o jurista e advogado Alan Dershowitz, que representou Donald Trump durante o primeiro 'impeachment', disse ao canal conservador Newsmax que a recomendação da comissão "é um pedaço de papel inútil".
"O Congresso não tem poder para recomendar acusações", notou o professor emérito de Harvard, dizendo que há uma provisão na Constituição precisamente contra isto. É uma proibição de "bills of attainder", ou atos do poder legislativo que declaram que uma parte é culpada de um crime sem passarem pelo processo de julgamento.
Dershowitz argumentou que, pela separação de poderes, "não se deixa o Congresso dizer quem deve ser acusado".
Dick Morris, ex-conselheiro de Bill Clinton que se tornou apoiante de Trump e escreveu um livro sobre o seu regresso em 2024, caracterizou as recomendações da comissão como artifício e disse que estas provavelmente não serão aceites pelo Departamento de Justiça.
"Isto é obviamente um artifício e por isso obviamente está errado", afirmou no Newsmax. "Dizer que ele fomentou uma insurreição é apenas absurdo. E é óbvio, tal como foi nos fundamentos dos dois 'impeachments', que os eleitores compreendem isso, em particular os eleitores republicanos".
Também Shelley Moore Capito, que vai assumir a liderança republicana da comissão de política no Senado, considerou que o trabalho foi "obviamente politizado" e nunca tinha visto "o Congresso a instruir dessa forma" o Departamento de Justiça.
Na Fox News, o jurista conservador Jonathan Turley salientou que a comissão não conseguiu montar um caso forte em termos de ações passíveis de criminalização e afirmou que a decisão do painel foi arriscada, porque o Departamento de Justiça pode contradizê-lo.
"Esta comissão prometeu que haveria novas provas. Houve alguns vídeos que ainda não tínhamos visto, mas não houve provas diretas de um ato criminoso por parte do anterior presidente", afirmou. O jurista considerou que o comportamento de Donald Trump não foi criminoso, embora tenha sido imprudente e repreensível.
"O problema é que não penso que condenações com base nestas provas aguentariam o escrutínio judicial", continuou. "O maior problema está nas acusações baseadas no discurso do presidente", considerou, dizendo que as palavras proferidas por Trump minutos antes da insurreição são discurso protegido. "Não chegam ao padrão estabelecido pelo Supremo Tribunal para a criminalização do discurso".
Já o líder da minoria republicana do Senado, Mitch McConnell, reagiu com poucas palavras ao desfecho do trabalho da comissão, em declarações aos jornalistas. "A nação inteira sabe quem é responsável por aquele dia", afirmou. "Para lá disso, não tenho nenhuma observação imediata".
Pouco antes de se conhecer a decisão da comissão, que teve um voto unânime na recomendação da acusação criminal de Trump, o ex-vice-presidente Mike Pence dissera na Fox News que tal seria "terrivelmente fraturante para o país" e que nesta época festiva as pessoas querem sobretudo cicatrizar as feridas.
"Penso que as ações e palavras do presidente no 06 de janeiro foram imprudentes", disse o ex-governante. "Mas não sei se é criminoso aceitar maus conselhos de advogados e por isso espero que o Departamento de Justiça seja cuidadoso".
A revista Rolling Stone escreveu um texto sobre isso com o título "Mike Pence diz que o homem que o queria ver morto no 06 de janeiro não deve ser acusado".
O republicano Andy Biggs, alvo de uma recomendação de investigação à Comissão de Ética da Câmara dos Representantes por ter recusado cumprir uma intimação, reagiu com desdém em comunicado, chamando à comissão "uma charada" que nunca precisou realmente do seu testemunho e o de outros republicanos.
"Só queriam o nosso testemunho para poderem editar e interpretar mal as nossas afirmações para avançarem as suas falsas narrativas, como fizeram com muitas outras testemunhas", acusou. "A comissão do 06 de janeiro difamou o meu nome e o meu caráter, e estou ansioso por analisar os seus documentos, publicar as suas mentiras e esclarecer a verdade no 118º congresso".
Scott Perry, outro congressista visado da mesma forma, reagiu via porta-voz, chamando à comissão um "tribunal canguru petulante" que em breve será extinto.
A recomendação não é vinculativa e o Departamento de Justiça não tem de responder ou agir em relação à mesma, mas a comissão tem estado a colaborar com o departamento liderado pelo procurador Merrick Garland, partilhando evidências e testemunhos que recolheu.
Alyssa Farah Griffin, ex-diretora de comunicação da Casa Branca na administração Trump, disse à CNN que estava especialmente interessada em perceber se o Departamento de Justiça ia investigar o que, na sua opinião, foram as tentativas de interferência com testemunhas que ocorreram durante o trabalho da comissão.
"Penso que foi estrategicamente avisado não recomendar para acusação nomes de funcionários da Casa Branca, porque isto vai criar um atropelo de pessoas que podem estar legalmente expostas e levá-las a colaborar com o Departamento de Justiça".
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