"Kurti, Kosovo e Metohija não é tua propriedade, é a terra dos nossos avós", foi o lema do protesto que reuniu em particular os sérvios kosovares do norte, mas também de outros locais, e foi convocado para contestar o Governo do primeiro-ministro albanês kosovar, Albin Kurti.
A população local sérvia do norte do Kosovo mantém bloqueado o tráfego em nove pontos da região desde sábado passado, num agravamento das tensões que poderá comprometer a situação de segurança na ex-província da Sérvia.
A missão policial europeia EULEX e a Força Kfor da NATO reforçaram a presença nas proximidades do protesto, enquanto um helicóptero sobrevoava a zona.
Goran Rakic, um dos líderes sérvios kosovares, declarou em Rudare que os sérvios exigem a libertação imediata dos ex-polícias recentemente detidos por Pristina e a retirada do norte de diversas unidades da polícia especial do Kosovo.
"As barricadas apenas serão levantados se as nossas exigências forem cumpridas", disse Rakic.
A comunidade internacional exige aos sérvios kosovares que retirem as barricadas, uma ação de protesto que Pristina atribui a "bandos criminais controlados pela Sérvia".
A tensão entre Pristina, por um lado, e a população sérvio kosovar e Belgrado, por outro, agravou-se após a detenção de vários polícias sérvios que abandonaram os seus cargos na polícia kosovar em novembro, à semelhante de outros representantes sérvios que se retiraram das instituições do Kosovo.
Os sérvios consideram as detenções sem fundamento e com o objetivo de intimidar a população.
Insistem ainda na retirada da região norte do território das forças policiais especiais enviadas por Pristina, e argumentam que a sua presença viola os acordos alcançados sob mediação da União Europeia (UE), que fornecem as competências policiais à comunidade sérvia local.
Os manifestantes sérvios kosovares acusam a comunidade internacional de tolerar "as constantes provocações" de Pristina, que hoje deslocou novas unidades policiais para o norte.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral da sua ex-província do sul, autoproclamada em 2008 na sequência de uma guerra iniciada por uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,8 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente, cujo Governo pretende impor a sua autoridade em todo o território, foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
Na terça-feira, o Governo espanhol assegurou que o país não apoiará a candidatura do Kosovo de adesão à UE, pelo facto de não ter legitimado a secessão da ex-província sérvia.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
Belgrado e os sérvios kosovares também acusam Pristina de bloquear sistematicamente a formação de uma associação de municípios sérvios, prevista nos acordos entre as duas partes assinados em 2013 e mediados pela UE, que permitiria um assinalável grau de autonomia a esta comunidade.
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