Lula no poder e guerra vão acelerar acordo Mercosul/UE, diz investigador
O investigador José Roberto Afonso considera que, com Lula da Silva na Presidência do Brasil, a partir de janeiro, e a guerra na Ucrânia, o país latino-americano deve tornar-se no grande parceiro da Europa e acelerar o acordo Mercosul-UE.
© Andressa Anholete/Bloomberg via Getty Images
Mundo Mercosul-União Europeia
Uma relação que, segundo o académico, irá beneficiar as duas partes, porque o Brasil também vai precisar de investimentos europeus em infraestruturas físicas e na área da energia para levar por diante o que José Roberto Afonso considera ser urgente: um plano de resiliência e reconstrução, à semelhança do que foi feito na União Europeia (UE).
Para José Roberto Afonso, que é também vice-presidente do FIBE - Fórum de Integração Brasil-Europa, a questão política no seu país, nos últimos anos, "contaminou muito a questão empresarial" e o Brasil "virou uma ilha na América Latina".
Mas Lula da Silva vai aproveitar "a sua biografia, a sua história e os seus bons relacionamentos" para fazer uma diplomacia brasileira mais ativa, "mais próxima da Europa, estimulando também com isso o resto da América Latina", pelos interesses do Brasil, mas também do continente em que está inserido.
O que vai traduzir-se tanto na possibilidade de aumento das exportações, desde os alimentos à energia, mas também de hidrogénio verde, de que o Brasil pode ser uma grande fornecedor. Até por serem estas as áreas nas quais a Europa aumentou muito a sua procura face à guerra da Ucrânia, frisou.
"Por isso eu acho que o Brasil é um bom parceiro para a Europa", acrescentou.
E será um bom parceiro não só como exportador, mas também como recetor de investimento europeu sublinhou o professor e investigador do ISCSP -- Instituto de Superior de Ciência Sociais e Políticas de Portugal.
O Brasil está "aberto a receber investimentos europeus, sobretudo na área da energia, e em particular na questão do hidrogénio verde, pelo que há um enorme potencial", a explorar na sua relação com a Europa, destacou o académico que é também consultor técnico da Fundação Getúlio Vargas e professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa.
Lembrando também que o Brasil e Portugal têm hoje como marca comum uma matriz energética das mais limpas do mundo, que agora "precisa de crescer muito, não só para abastecer os seus respetivos mercados, mas também a Alemanha e o resto da Europa, que vão certamente trocar, a longo prazo, o petróleo por hidrogénio verde", sublinhou.
Assim, defendeu que o Brasil deve ter também "uma participação mais ativa, sobretudo em Portugal e na Península Ibérica em torno da energia e também da logística".
Por tudo isto, o vice-presidente do FIBE acredita que "nos próximos meses e próximos anos vai haver uma aproximação, não apenas política, mas sobretudo empresarial muito forte entre latino-americanos e europeus", graças a uma conjugação de fatores.
Na opinião do académico depois de ter começado a guerra Ucrânia-Rússia, ou seja ainda antes de Lula da Silva ter sido eleito Presidente do Brasil, já a Europa tinha uma nova postura em relação à América Latina e, em particular face ao Brasil. Pelo que "a eleição do Lula só vem incentivar ainda mais a que se passe do campo da retórica, das conversas, para o campo mais efetivo", neste relacionamento, sublinhou.
Ora, o futuro presidente do Brasil, Lula da Silva, "tem o potencial de fazer, como outros dirigentes, a aproximação política que ajuda a uma maior aproximação empresarial e também social" entre as duas partes, sublinhou.
Lembrando que o acordo Mercosul (Mercado Comum do Sul, na definição do governo brasileiro, que é hoje a principal iniciativa de integração da América do Sul) com a União Europeia enfrentava mais resistências do lado europeu do que dos países latino americanos, esbarrando no setor do agronegócio europeu, que tinha preocupações de conseguir concorrer com o agronegócio brasileiro.
A outra questão que a Europa sempre valorizou muito foi, e corretamente, no entender de José Roberto Afonso, os compromissos ambientais e sociais. Neste último aspeto, defendeu: "cabe ao Mercosul e, em particular, ao Brasil mostrar que tem uma nova postura sobre estas questões", o que o novo Presidente eleito do Brasil, que tomará posse a 01 de janeiro de 2023, já fez questão de mostrar durante a sua participação na COP 27 (a 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas) que decorreu no Egito, em novembro.
Já no plano interno o vice-presidente do FIBE considera que a prioridade do governo de Lula da Silva vai ser os investimentos em infraestruturas.
Assim, a "retomada da economia brasileira vai passar, ao longo do Governo Lula, muito "por um choque e um programa de investimentos pesados, como a Europa vem fazendo", considerou José Roberto Afonso.
Já no curtíssimo prazo, segundo o académico, o que se espera é que "o apoio emergencial aos mais pobres", já aprovado na Câmara dos Deputados do Brasil, melhore "o consumo doméstico, mas isso não será o suficiente para uma retomada importante do crescimento [da economia]. Essa retomada vai ter que vir de um plano de investimentos públicos e privados", concluiu.
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