Segundo um relatório anual do ministério espanhol, um total de 31.219 migrantes entrou ilegalmente em Espanha durante o ano passado, enquanto em 2021, o número chegou aos 41.945.
O Governo, que sublinha que esta é a segunda descida anual consecutiva e a terceira em quatro anos, explica a tendência com o aumento da "cooperação com os países de origem e de trânsito da migração" e pelo reforço da "luta contra as máfias que se dedicam ao tráfico de pessoas".
O documento adianta ainda que, na sequência de uma mudança de posição de Madrid sobre a questão do Saara Ocidental - ex-colónia espanhola controlada maioritariamente por Marrocos e que está no centro de uma disputa entre Rabat e a Frente Polisário -, o ano de 2022 ficou marcado pelo fim da querela diplomática sobre aquela região, de onde ou por onde passa um número muito elevado de migrantes irregulares que chegam a Espanha.
As relações diplomáticas entre Espanha e Marrocos estiveram quase um ano paralisadas depois de a Espanha ter dado guarida ao líder da Frente Polisário, Brahim Ghali, que esteve hospitalizado na Catalunha.
Em março passado, no entanto, o Governo de Pedro Sánchez enviou uma carta ao rei Mohammed VI, anunciando "uma nova etapa" na relação dos dois países "baseada no respeito mútuo, cumprimento de acordos, ausência de ações unilaterais e transparência e comunicação permanente".
"A redução mais significativa [do número de migrantes em Espanha] diz respeito às entradas por via marítima, que revelam uma diminuição generalizada nas costas da península - em Ceuta, nas Baleares e nas Canárias -, tanto no número de migrantes como no de barcos", sublinha o ministério no relatório hoje divulgado.
O número de migrantes irregulares que entrou em Espanha através do mar diminuiu 27,9% face a 2021, enquanto o de barcos baixou 20,7%.
"A queda mais significativa" foi registada nas ilhas Canárias, arquipélago espanhol localizado na costa noroeste da África: 15.682 no ano passado contra 22.316 em 2021, ou seja, menos 29,7%, adianta o documento.
Desde o final de 2019 e o reforço do controlo no mar Mediterrâneo, tinham-se multiplicado os desembarques de migrantes irregulares nas ilhas Canárias provenientes das costas africanas - em particular os do Saara Ocidental -, apesar se a travessia ser particularmente perigosa devido às fortes correntes.
Por outro lado, as entradas por via terrestre nos dois enclaves espanhóis em Marrocos (Ceuta e Melilla), que constituem as duas únicas fronteiras terrestres da União Europeia com o continente africano, aumentaram 24,1%.
Quase 2.000 migrantes tentaram forçar a entrada em Melilla em 24 de junho, o que foi considerado uma represália por Espanha ter acolhido o líder da Frente Polisário, mas pelo que as autoridades marroquinas sempre negaram qualquer responsabilidade.
A Espanha é um dos principais pontos de entrada para a migração irregular na Europa, apesar de o país ser, muitas vezes, uma mera escala na viagem para outros Estados da União Europeia.
Num relatório divulgado no mês passado, a organização não-governamental espanhola Caminando Fronteras, que faz um balanço das tragédias da migração com base em testemunhos de migrantes ou dos seus familiares, avançou que, desde 2018, mais de 11.200 pessoas morreram ou desapareceram quando tentavam entrar em Espanha, o que representa uma média de seis por dia.
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