Fiéis anteveem Papa Francisco a tornar-se emérito, tal como Bento XVI
A possibilidade de o Papa Francisco resignar e tornar-se papa emérito como Bento XVI, que morreu no sábado, é antecipada por vários fiéis que estão esta quarta-feira na Praça de São Pedro, no Vaticano, que admitem a repetição da História.
© Reuters
Mundo Bento XVI
"Vamos ter a mesma História. Vamos ter dois papas, um no descanso e o novo focado na Igreja", disse à agência Lusa Hamilton Dias, brasileiro de 63 anos, que fez questão de dizer que tem antepassados açorianos.
De férias com a família em Itália, foi surpreendido com a morte do papa emérito Bento XVI, "um conservador que colocou a Igreja num caminho mais progressista", como o definiu Hamilton Dias, residente em Criciúma, estado de Santa Catarina.
"Francisco não tem condições para tocar essas mudanças", considerou o turista brasileiro.
Já Ismael Mohammed, indiano de Calcutá residente em Toronto, no Canadá, admitiu o mesmo cenário, depois de explicar que a presença com a mulher em Roma tinha apenas um único propósito, participar no funeral de Bento XVI, na quinta-feira.
"Espero que a História se repita", afirmou Ismael, de 50 anos, que trazia um boné com a inscrição "Argentina" e a mostrar o largo sorriso de quem ainda assistiu à final entre Argentina e França, no Mundial do Qatar, e gostou do resultado.
A mulher, Chila, da mesma idade, elencou qualidades do papa emérito, frisando que "dedicou a sua vida às pessoas".
"É um símbolo de humanidade, de amor", destacou.
Uma outra turista brasileira, Luciana Moretti, de São Paulo, relatou à Lusa que a presença em Roma por ocasião da morte de Bento XVI foi uma coincidência, pois já tinha planeado esta viagem há seis meses, mas, ainda assim, "um momento histórico".
Luciana Moretti, de 35 anos, que já tinha visto Bento XVI em São Paulo, classificou a resignação do papa como um "ato de nobreza" e realçou que questões de saúde o impediam de "exercer bem o ofício de papa".
Reconhecendo este como um facto histórico, a turista admitiu que Bento XVI "teve a humildade de renunciar" e que o mesmo gesto de nobreza pode repetir-se por parte de outro papa, sem nunca referir Francisco.
Uma religiosa da Comunidade Servas de Maria do Coração de Jesus, que estava na Praça de São Pedro acompanhada por outras duas freiras, explicou que vieram de Udine (Itália) para o funeral de Bento XVI, que se realiza na quinta-feira.
"Depois de sabermos que o papa Bento XVI faleceu, tivemos esse desejo. Para nós é uma pessoa santa, o nosso pastor. É um desejo muito grande de vê-lo, de estar perto dele, de pedir a sua intercessão", afirmou a irmã Carolina, brasileira de 27 anos, daquela congregação, que tem também uma casa em Fátima.
A religiosa considerou que o papa emérito é "um espelho de santidade", destacando que "viveu 10 anos no silêncio, na entrega pela Igreja, mesmo tendo renunciado", e que, "mesmo no silêncio, mesmo na oração, se pode levar a fé e a força para o coração das pessoas".
Questionada sobre a eventualidade de o Papa Francisco também poder vir a resignar, a freira respondeu: "Possibilidade tem, porém se vai ou se não vai... Estamos abertas para a vontade de Deus".
O Papa Francisco revelou, numa entrevista publicada no dia 18 de dezembro, que assinou, há cerca de nove anos, uma carta de demissão caso problemas de saúde o impeçam de cumprir as suas funções.
O chefe da Igreja Católica, de 86 anos, disse ao diário espanhol ABC que assinou a carta de demissão e remeteu-a ao secretário de Estado do Vaticano, Tarcísio Bertone, antes de este se reformar em 2013.
"Assinei a demissão e disse-lhe: 'Em caso de impedimento médico ou outro, aqui está a minha demissão. Tem-la", declarou.
Francisco, que já havia afirmado no passado que renunciaria caso tivesse problemas de saúde, disse não saber o que Bertone fez à carta.
O Papa tem um problema de joelho inoperável, que o obriga, nos últimos meses, a usar uma cadeira de rodas e, no último ano, teve mesmo de cancelar ou reduzir a sua atividade, várias vezes, devido à dor.
Em 30 de julho de 2022, Francisco, numa conferência de imprensa a bordo do avião na viagem de regresso a Roma, depois de seis dias de visita ao Canadá, confidenciou aos jornalistas que "não podia mais viajar" ao mesmo ritmo de antes, mencionando também a possibilidade de "colocar-se de lado".
"Não acredito que possa manter o mesmo ritmo de viagem de antes. Acredito que na minha idade, e com estes limites, devo-me poupar para poder servir a Igreja, ou, pelo contrário, pensar na possibilidade de me colocar de lado", disse na ocasião o Papa Francisco.
O Papa considerou que a possibilidade de renunciar, tal como o seu antecessor Bento XVI, "não é um desastre" e repetiu que a porta estava "aberta".
O papa emérito Bento XVI, que morreu no sábado com 95 anos, abalou a Igreja ao resignar do pontificado por motivos de saúde, em 11 de fevereiro de 2013, dois meses antes de completar oito anos no cargo.
Joseph Ratzinger, que foi papa entre 2005 e 2013, nasceu em 1927 em Marktl am Inn, na diocese alemã de Passau, tornando-se no primeiro alemão a chefiar a Igreja Católica em muitos séculos e um representante da linha mais dogmática da Igreja.
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