"Na Fitch Solutions, acreditamos que o principal risco político em Moçambique este ano virá da atividade continuada de insurgência, mas acreditamos também que a legalização recentemente aprovada, de milícias locais para lutar contra os insurgentes poderá marginalmente aumentar a contra-insurgência nos próximos trimestre, escrevem os analistas.
Numa nota de análise sobre Moçambique, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings escrevem que Moçambique tem uma pontuação de 49,7 pontos em 100, em que quanto mais baixo, maior o risco, abaixo da média da África subsaariana, com 57,7.
Apesar de ser o principal risco político, a Fitch Solutions considera que "a visita recente do presidente da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, a Cabo Delgado, juntamente com o Presidente da República, Filipe Nyusi, vai resultar no recomeço do projeto, depois da suspensão das operações em 2021".
Para sustentar esta opinião, os analistas vincam que "a situação de segurança melhorou e o número de confrontos armados baixou, no seguimento do envolvimento das tropas da Comunidade dos Países da África Austral (SDAC, na sigla em inglês) e do Ruanda", país que apoia Maputo e que aumentou o continente, de 1000, em 2021, para 2.500 no final do ano passado.
"Apesar das melhorias, os ataques a civis continuam e a atividade insurgente ainda persiste em Palma, o que vai continuar a ameaçar o desenvolvimento do setor do gás natural de Moçambique", acrescentam.
Na análise do risco, a Fitch Solutions nota ainda que "o elevado número de pessoas deslocadas internamente no norte do país vai continuar a ser um risco para a estabilidade social nos próximos trimestres" e lembra que o número de pessoas nesta situação precária passou de 622 mil, em janeiro de 2021, para 870 mil, em junho do ano passado.
A província de Cabo Delgado é aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
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