Em declarações à Lusa, após ser noticiado que a justiça angolana emitiu ofícios destinados a todos os condomínios localizados em Luanda, solicitando informação sobre imóveis registados em nome de várias empresas, entre as quais algumas detidas por Welwítschia José dos Santos "Tchizé" e pelo seu irmão "Coreón Dú", a empresária afirmou ter tido conhecimento da investigação pelas redes sociais.
A filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos referiu também que nenhuma das suas empresas tem propriedades em Luanda e que, atualmente, não faz parte da gestão de qualquer delas.
Em causa estão a Westside Investments e Semba Comunicações que geriam o canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA) até a administração da cadeia televisiva pôr fim ao contrato, em 2018, já após José Eduardo dos Santos (que morreu no ano passado) deixar a presidência do país que governou durante 38 anos ao seu sucessor, João Lourenço.
Segundo a TPA, os pagamentos anuais à Westside/Semba ultrapassavam os 17 milhões de dólares e as empresas -- privadas -- usufruíam de estúdios modernos e equipados com as melhores tecnologias sem quaisquer custos, acrescentando que a estação televisiva sempre assumiu as suas obrigações, apesar do caráter "leonino e abusivo dos contratos em causa".
"Tchizé" dos Santos afirmou que a Westside está "praticamente sem atividade desde que o Presidente João Lourenço mandou tirar do ar" o seu canal Vida TV e lamentou estar "impossibilitada de trabalhar no mercado angolano" por ser "crítica" de Joao Lourenço.
"Nas antigas instalações da Vida TV hoje opera um novo canal e opera com grande parte dos ex-trabalhadores da Vida TV, mas sem mim. Isso explica muita coisa", destacou "Tchizé" dos Santos, acrescentando: "Existe uma perseguição política provada à minha pessoa".
A empresária disse ainda que as empresas e projetos que lançou "têm valor como marcas" e queixa-se de o Governo angolano ter tentado plagiar os "Prémios Angola 35 graus", que agora são organizados de forma "sigilosa e quase clandestina" para evitar boicotes.
"Tendo vencedores e até apresentadores sido pressionados a não comparecer para receber os prémios ou apresentar a cerimónia", declarou à Lusa, insistindo que há "uma determinação" em destruir a sua reputação e bom nome.
"Eu acho que isto é tudo uma manobra de distração para abafar o caso dos escândalos do juiz do Tribunal Supremo e da juíza do Tribunal de Contas, que também leva muita gente a indagar-se sobre a lisura da juíza do Tribunal Constitucional, que deu posse sem a recontagem de votos pedida pela oposição", sugeriu.
Questionada sobre os seus rendimentos atuais, "Tchizé" dos Santos respondeu que tem negócios na restauração e estética e que se dedica ao projeto social Tea Club, "porque o Presidente João Lourenço se encarregou de destruir tudo o resto", tendo também casas arrendadas em Luanda "a cidadãos estrangeiros".
Segundo "Tchizé", o seu projeto Tea Club para micro empreendedores, com cursos de padaria e pastelaria para mulheres tem também sido boicotado, queixando-se de que os participantes chegaram a ser expulsos de um 'workshop' e o recinto fechado a cadeado.
"Disseram que era por ser da 'Tchizé' dos Santos. Isto foi dito pelo senhor administrador Tany Narciso, dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola [MPLA] e responsável pelo mercado onde a voluntária tinha o espaço", lamentou a também ex-deputada do MPLA, partido que governa Angola desde a independência em 1975.
A filha do antigo presidente considerou que está "banida de Angola", realçando que não consegue tratar de nada "relacionado com Angola ou repartições angolanas", tendo tido "prejuízos brutais" em algumas atividades.
"Eu não sei o que lhe fiz para me estar a fazer esta perseguição, a não ser por ser filha de José Eduardo dos Santos. E concluo isso pelas outras pessoas que se dizem perseguidas por João Lourenço, com as quais partilho o mesmo pai!", referiu "Tchizé", numa alusão à irmã Isabel dos Santos, alvo de vários processos judiciais em Angola e noutras jurisdições, incluindo Portugal.
"Tchizé" dos Santos considerou igualmente "muito triste a destruição de carreiras dos melhores quadros do país por motivos políticos", e recordou à Lusa "a perseguição toda" depois da morte do pai, "a luta pelo corpo, o funeral sórdido", afirmando tentar "continuar a mostrar o lado belo de estar viva apenas".
No ano passado, os filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos travaram um braço-de-ferro com a viúva, Ana Paula dos Santos, e os filhos mais novos, apoiados pelo Governo angolano, que pretendia transportar o corpo do ex-presidente (que morreu em Espanha) para Luanda e fazer um funeral de Estado.
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