Arcebispo polaco recusa acusações por encobrimento contra João Paulo II

O arcebispo polaco recusou hoje as acusações por alegado encobrimento contra João Paulo II e diz que são "parte dos constantes ataques e perseguições" de que a Igreja tem sido alvo ao longo da História.

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Lusa
08/03/2023 21:23 ‧ 08/03/2023 por Lusa

Mundo

Abusos na Igreja

Marek Jedraszewski, atual arcebispo de Cracóvia, comparou as acusações contra o pontífice com a tentativa de assassinato que o então Papa sofreu em 1981, na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Na sequência de uma investigação de um canal de televisão polaco, divulgada na segunda-feira à noite, João Paulo II foi acusado de ocultar casos de abusos sexuais a menores dentro da Igreja polaca enquanto ocupava os cargos de arcebispo e cardeal de Cracóvia.

A investigação que durou dois anos e meio continha documentos e testemunhos relativos a casos de abusos sexuais praticados por três padres polacos. Uma das vítimas que testemunhou confirmou que denunciou o caso diretamente a João Paulo II e que este prometeu que tomaria providências.

No entanto, o então cardeal Karol Wojtyla é acusado por várias pessoas, nomeadamente membros da hierarquia eclesiástica, de nunca ter feito denúncias ou imposto punições aos culpados.

Durante a homilia na Basílica da Santíssima Trindade de Cracóvia, o arcebispo disse que "o ataque ao Papa João Paulo II em 1981 foi uma tentativa de calar a boca a quem pregava a verdade sobre Deus" e que este segundo ataque se baseia em "mentiras e insinuações".

Acrescentou que os abusos a menores são "um mal verdadeiramente repugnante que conseguiu entrar na vida Igreja" e assegurou que se transformou numa "espécie de ideologia noutro tipo de ambientes".

Neste momento de "segundo ataque" ao pontífice a sua defesa é necessária e é preciso recuperar "os sentimentos e o êxtase" que João Paulo II deu à Igreja, adiantou.

No dia seguinte à divulgação da investigação, o Escritório do Episcopado polaco defendeu que é "impossível determinar com clareza" o caráter dos atos atribuídos a pelo menos um dos padres acusados, uma vez que as acusações são feitas com base em documentos disponibilizados pela polícia política do Governo comunista polaco da altura.

"Uma avaliação justa de Karol Wojtyla requereria mais investigação" é uma das afirmações que consta do comunicado.

Também da terça-feira, o primeiro ministro polaco Mateusz Morawiecki reagiu à investigação publicando no seu perfil da rede social Facebook uma fotografia de João Paulo II em que se podia ler na legenda "Não tenham medo".

O teor da investigação reavivou a polémica em torno da suposta responsabilidade de João Paulo II no encobrimento de casos de abusos sexuais a menores na Igreja polaca, e surge numa altura em que o tema tem sido alvo de atenção internacional.

Em Portugal está a decorrer uma investigação sobre os abusos sexuais dentro da Igreja. A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica já validou 512 testemunhos e apontou para um número mínimo de vítimas que ronde os 4.815.

Os testemunhos recebidos referem-se a acontecimentos ocorridos entre 1950 e 2022.

Foram reportados 25 casos ao Ministério Público.

Leia Também: Abusos sexuais? Igreja "tem de indemnizar" vítimas se for condenada

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