O Viasna, o mais antigo e mais destacado grupo de defesa dos direitos humanos bielorrusso, indicou que as detenções em massa ocorreram na capital, Minsk, bem como no leste e no oeste do país, tendo as autoridades tomado como alvos ativistas da oposição, jornalistas, profissionais de saúde, membros de clubes desportivos de tiro e operadores de 'drones' (aparelhos voadores não-tripulados).
O advogado do Viasna Pavel Sapelka disse à agência de notícias norte-americana Associated Press (AP) que as forças de segurança da Bielorrússia estão a levar a cabo "rusgas e buscas em larga escala" a suspeitos de envolvimento num recente ataque a um avião de combate russo estacionado perto de Minsk.
"Guerrilhas" do movimento de oposição do país BYPOL reivindicaram a autoria do ataque a um Beriev A-50 estacionado na base aérea de Machulishchy, próximo da capital bielorrussa.
A Rússia usou o território dos seus aliados bielorrussos para invadir a Ucrânia, há pouco mais de um ano, e os bielorrussos continuam a acolher tropas russas, aviões de combate e outro armamento.
Os ativistas da oposição afirmaram que o seu objetivo era minar o apoio das autoridades bielorrussas à guerra russa na Ucrânia.
Estas, por sua vez, indicaram ter pedido a Moscovo, aliada de longa data, que monitorizasse a sua fronteira e inicialmente mantiveram silêncio sobre o incidente.
Alguns dias depois, o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, reconheceu o ataque, declarando que os danos causados ao avião de combate foram insignificantes, mas admitindo que este teria de ser enviado para a Rússia para reparação.
Segundo o Ministério do Interior bielorrusso, só no dia 09 de março, 60 pessoas foram detidas no âmbito de "uma intensificação dos esforços contra os envolvidos em grupos extremistas e organizações terroristas".
A agência de segurança estatal KGB do país também reportou ter detido um cidadão ucraniano que as autoridades acusam de atacar o avião e 20 cidadãos bielorrussos alegadamente cúmplices.
As autoridades também comunicaram ter detido 30 pessoas na cidade de Gomel, na fronteira com a Ucrânia, "com o propósito de identificar as ligações com membros estrangeiros de grupos extremistas".
De acordo com o Viasna, os detidos em Gomel continuam sob custódia em condições difíceis.
O grupo também denunciou "inexplicáveis" detenções em massa de psicólogos e psiquiatras bielorrussos: mais de 20 médicos foram detidos em todo o país, e as autoridades "exigem que eles violem o sigilo profissional entre médico e doente e identifiquem doentes "desagradáveis" que estejam a tratar.
Um total de quatro jornalistas foi também detido na Bielorrússia na última semana; entre eles, estão Viachaslau Lazarau, que foi preso em Vitebsk e enfrenta acusações de "contribuir para atividades extremistas", e o repórter de imagem Pavel Padabed, hoje detido em Minsk devido a uma publicação nas redes sociais datada de 2012. Outro jornalista, Anatol Hatouchyts, foi submetido a buscas na sua residência.
"Temos conhecimento de uma centena de detidos em toda a Bielorrússia, mas a verdadeira escala [da operação de repressão] pode ser muito maior", disse Sapelka.
"Qualquer ato de resistência ao regime de Lukashenko desencadeia uma nova vaga de repressão na Bielorrússia", observou o advogado do Viasna, acrescentando que a repressão visa "semear mais medo numa já intimidada sociedade".
Uma ação de repressão de dissidentes de grandes proporções foi levada a cabo pelas autoridades na Bielorrússia em 2020 e tem continuado por vagas desde então. Surgiu em resposta à contestação em massa que se seguiu às eleições de agosto de 2020 que deram a Lukashenko um novo mandato presidencial.
Os políticos da oposição e os países ocidentais classificaram os resultados do escrutínio como fraudulentos.
Lukashenko, um aliado de longa data do Presidente russo, Vladimir Putin, que apoiou a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, governa a ex-república soviética com punho de ferro desde 1994: mais de 35.000 pessoas foram presas e milhares foram espancadas pela polícia durante os protestos, os maiores alguma vez realizados no país.
"Detenções, rusgas, tortura atrás das grades prosseguem na Bielorrússia, os prisioneiros políticos são pressionados e os órgãos de comunicação social independentes estão a ser rotulados como extremistas", descreveu Sapelka, acrescentando que "a repressão contra aqueles que ativamente expressam as suas opiniões sobre a guerra na Ucrânia, desencadeada pela Rússia, está a intensificar-se a cada dia que passa".
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