Antigo presidente do Kosovo volta a clamar inocência no tribunal de Haia
O antigo presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, insistiu hoje que está inocente perante um painel de juízes internacionais no decurso do julgamento onde está indiciado por dez atas de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
© Reuters
Mundo Hashim Thaçi
No final da declaração dos seus advogados na sala de audiências do Tribunal Especial para o Kosovo (KSC), Thaçi voltou a clamar inocência ao referir que "as vítimas não obtêm justiça quando os inocentes são perseguidos".
Thaçi indicou que era um estudante e exilado político na Suíça quando decidiu juntar-se ao Exército de Libertação do Kosovo (UÇK), os separatistas armados albaneses que pretendiam a independência do território, então uma província da Sérvia.
Eleito líder político do UÇK após um sustentado apoio ocidental, em particular dos Estados Unidos, foi convidado em 1999 para representar os separatistas albaneses nas fracassadas conversações de Rambouillet, que justificaram uma intervenção da NATO à revelia da ONU contra a Jugoslávia (Sérvia e Montenegro) liderada por Slobodan Milosevic.
Thaçi disse lamentar que a antiga secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, e outros diplomatas ocidentais, todos já falecidos, não pudessem falar em seu nome.
"Teriam testemunhado em meu nome sobre o que disse e fiz durante esse importante período da história do Kosovo", disse. "Estou contente porque outros como eles compareceram para testemunhar sobre a minha inocência".
Os procuradores apresentam outro cenário, ao alegarem que Thaçi e três outros antigos líderes do UÇK que também estão indiciados e detidos em Haia são responsáveis por assassinatos, detenções ilegais e abuso de pessoas que consideravam traidores ou colaboradores com as forças sérvias.
"Estou inocente de todas estas alegações", disse Thaçi. "No entanto, estou preparado para enfrentar este novo desafio e vencer, pela minha família, pelo meu povo e pelo meu país".
O advogado de defesa Gregory Kehoe alegou perante os juízes que Thaçi não detinha "o comando e controlo efetivos" sobre o UÇK durante o período em que os procuradores internacionais do KSC o responsabilizam por crimes de guerra e crimes contra a humanidade alegadamente cometidos por membros do grupo armado separatista no decurso do conflito, que atingiu o auge em 1998-1999.
O efetivo controlo de Thaçi e dos três outros altos dirigentes do UÇK indiciados sobre os combatentes do grupo separatista será uma questão decisiva para o desfecho deste julgamento que se iniciou na segunda-feira e deverá prolongar-se por vários meses.
Thaçi e os restantes três indiciados, Kadri Veseli, Rexhep Selimi e Jakup Krasniqi, estão oficialmente indiciados por ofensas que incluem morte, tortura e perseguições, alegadamente cometidas no Kosovo e no norte da Albânia entre 1998 e setembro de 1999, durante e após a guerra.
As alegações de Kehoe destinaram-se a contrariar as acusações emitidas na segunda-feira, primeiro dia do julgamento, de que Thaçi e os três co-réus pertenciam à liderança do UÇK e estavam envolvidos na política de perseguições e eliminação de civis que consideravam colaboradores ou traidores.
O julgamento decorre no Tribunal Especial para o Kosovo (KSC), um segmento do sistema legal do Kosovo e instância judicial 'ad hoc' financiada em parte pela União Europeia, estabelecido em Haia em parte devido aos receios sobre a segurança das testemunhas.
O tribunal de Haia e o respetivo gabinete do procurador foram criados após um relatório do Conselho da Europa de 2011, onde se incluíam alegações sobre o tráfico de órgãos humanos extraídos a prisioneiros sérvios e albaneses que teriam sido executados pelo UÇK.
As alegações sobre este tráfico de órgãos humanos não foram incluídas no indiciamento dirigido a Thaçi, que também tem negado todas estas acusações.
A guerra do Kosovo (1998-1999) provocou cerca de 13.000 mortos, na maioria albaneses locais. Uma campanha da NATO contra a Sérvia e o Montenegro acabou por pôr termo ao conflito através de um acordo de paz, com as duas partes a reivindicarem vitória.
Este julgamento motivou no domingo uma grande manifestação em Pristina de apoio aos quatro indiciados, e um novo protesto em Haia na segunda-feira, que juntou centenas de albaneses kosovares emigrados nos Países Baixos.
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