"Até ao momento, registamos cerca de 80.000 casos de crimes de guerra. As provas destes crimes estão a crescer exponencialmente", disse Andryi Kostin, procurador-geral ucraniano, numa reunião da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Representantes dos Estados Unidos.
O procurador destacou que é da responsabilidade da comunidade internacional "fazer os possíveis para descobrir os crimes horríveis que a Rússia está a cometer na Ucrânia".
Kostin pediu aos Estados Unidos que continuem a cooperar, tanto militarmente, como na responsabilização de "todos aqueles que orquestram e possibilitam a prática destes crimes", através de várias iniciativas legislativas como a condenação do sequestro ilegal de crianças.
"Sei que o Congresso dos Estados Unidos considerou novas emendas ao código penal para incluir uma nova disposição que criminaliza os crimes contra a humanidade, o que permitiria punir tais crimes quando os perpetradores estiverem em solo americano", lembrou Kostin.
Na audiência estiveram presentes dois sobreviventes da guerra que prestaram o seu depoimento.
"Eles prenderam-me durante cinco dias, espancaram-me, forçaram-me a tirar a roupa, cortaram o meu corpo com uma faca e ameaçaram violar-me e matar-me", contou uma das mulheres que pediu aos Estados Unidos que ajudem a Ucrânia a praticar justiça contra aqueles que cometem estes crimes.
A outra testemunha relatou o que aconteceu a um adolescente ucraniano que foi enviado para um campo de reeducação na Rússia e, que depois de assistir a vários vídeos de propaganda pró-russa, conseguiu fugir.
Segundo a sobrevivente, esta é uma prática comum que tem como objetivo "despojar as crianças da sua identidade ucraniana".
Kostin argumentou que estes relatos têm sido uma "característica da doutrina militar e política russa" e pediu à comunidade internacional que tome medidas conjuntas para tentar obrigar a Rússia a devolver todas as crianças ucranianas.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.534 civis mortos e 14.370 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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