Passar fome para "encontrar Jesus". Seita matou mais de 50 pessoas
Caso, apelidado de 'Massacre do Shakahola', é chocante. Há sobreviventes que recusam comer e relatos de uma vala comum ainda por encontrar.
© Reuters
Mundo Seita
Quando as autoridades do Quénia encontraram três covas com seis corpos, na floresta de Shakahola, no subcondado de Malindi, na quarta-feira passada, estavam longe de imaginar as proporções do que ainda estava por descobrir.
Em vários dias de exumações, foram descobertos 51 corpos de pessoas que, alegadamente, pertenciam a uma seita. Apesar de já ser chocante, o número de mortes pode não ficar por aqui. Há quem diga que podem chegar a uma centena.
O presidente do Quénia, William Ruto, prometeu esta segunda-feira fortalecer as ações contra os cultos "terroristas" que deturpam a religião.
As autoridades não só encontraram sobreviventes em estado lastimável, que recusam comer porque acreditam que só assim vão encontrar Jesus, como estão a investigar a existência de uma vala comum ainda não encontrada.
De acordo com os meios locais, as terras que serviram de cenário a este achado macabro pertencem ao pastor Paul Mackenzie Nthenge, polémico líder do culto religioso conhecido como Igreja Internacional das Boas Notícias.
O homem, que se entregou à polícia no passado dia 15 de abril, encontra-se detido desde então. As autoridades quenianas acusam-no de encorajar os seguidores da seita, que podem ser centenas espalhadas por todo o país, a jejuarem até morrer, com o objetivo de encontrar Jesus.
Homem, mulher e três filhos enterrados lado a lado
No sábado, após três dias de exumação, foram encontrados cinco corpos "recentemente embrulhados num lençol", segundo a imprensa local, e deitados lado a lado.
De acordo com os investigadores trata-se de uma família, enterrada há cerca de uma semana, dias antes de se iniciarem as escavações.
Na cova comum, jaziam um homem, a mulher e os três filhos. Todos terão sucumbido à fome, na esperança de encontrar Jesus.
Massacre de Shakahola
Perante a tragédia, o ministro do Interior do Quénia, Kithure Kindiki, admitiu apertar a regulação dos locais de culto religioso.
"O que aconteceu no massacre da floresta de Shakahola é o exemplo mais claro de abusos num local constitucionalmente protegido para a liberdade de culto. (...) Foram cometidos crimes em grande escala segundo a lei queniana", disse Kithure Kindiki, num comunicado.
"Ainda que o Estado continue a respeitar as liberdades religiosas, este horrível ataque à nossa consciência deve levar não apenas à punição mais severa dos perpetradores da atrocidade cometida contra tantas almas inocentes, mas a uma regulamentação mais restrita - incluindo a autorregulação - de todas as igrejas, mesquitas, templos ou sinagogas no futuro", acrescentou o ministro.
Kithure Kindiki disse ainda que irá visitar Shakahola na terça-feira, enquanto a área, de mais de 300 hectares, está vedada e a ser investigada como um local do crime.
Paul Mackenzie Nthenge já tinha sido investigado
O pastor Mackenzie sempre foi polémico e teve problemas com as autoridades e líderes locais, mas nunca chegou a ser julgado ou proibido de espalhar a sua palavra.
Desde 2018 até agora, foi detido três vezes, mas sempre libertado. E há até quem diga que subornava as autoridades para que a Igreja Internacional das Boas Notícias continuasse com a porta aberta.
Conta o site Nation Africa, que está a cobrir o caso, que, em setembro de 2017, as autoridades fizeram uma busca às instalações da igreja e resgataram cerca de 93 crianças.
Paul Mackenzie Nthenge ainda foi levado a tribunal e acusado de promover a radicalização de menores, mas acabou libertado sob uma fiança de pouco mais de 3.500 euros, apesar de algumas das crianças terem revelado que foram alvo de uma "educação satânica".
[Notícia atualizada às 13h53]
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