"Manter uma perspetiva neutral será a estratégia de Angola no futuro próximo", disse Jeanne Ramier, explicando que "as grandes relações de poder não são percecionadas como um jogo de soma zero, como o Ocidente tende a encará-las", em que um lado perde e o outro ganha.
Angola "está mais preocupada em alavancar as relações internacionais para fazer avançar o seu próprio interesse", vincou em declarações à Lusa a propósito do posicionamento de Angola face à tradicional aliada Rússia, no seguimento da invasão da Ucrânia e da condenação pelo Ocidente.
"Manter uma posição de neutralidade não vai necessariamente ser fácil, mas Angola tem historicamente tido sucesso em fazê-lo, por exemplo nos casos da Coreia do Norte e da Coreia do Sul, ou de Israel face à Palestina, e duvido que os grandes poderes internacionais obriguem Angola a escolher um lado", afirmou.
A política externa tem ganho importância desde que João Lourenço venceu as presidenciais, em 2018, devido à necessidade de atrair investimento direto estrangeiro para ajudar a diversificar a economia e ganhar espaço orçamental para os investimentos necessários ao desenvolvimento económico, lembrou a analista, salientando que "o objetivo de João Lourenço tem sido aproximar-se do Ocidente para complementar a relação com a China e a Rússia".
No entanto, apontou, "os laços com estes dois parceiros continuam fortes, e Angola não deverá dar prioridade ao Ocidente face às parcerias históricas que mantém com estes dois países".
Angola não vai optar, ainda assim, por uma separação da China, que continua a ser o maior comprador de petróleo, sendo responsável pela aquisição de 72% de todas as exportações de crude, e o maior parceiro comercial e credor - Angola deve à China quase 20 mil milhões de dólares, um terço do total de dívida pública externa.
"A parceria com os chineses continua a ser uma prioridade para Luanda, por isso João Lourenço vai tentar manter boas relações com Pequim ao mesmo tempo que aprofunda os laços com outros países", considera Jeanne Ramier, notando que o mesmo vai acontecer com a Rússia.
"Por razões históricas, o país continua um forte aliado de Angola e, especialmente, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), que em muitos aspetos deve a sobrevivência do regime que estabeleceu ao apoio político, diplomático, militar e de treino da antiga União Soviética", lembrou a analista.
Admitindo que a Rússia "já não tem a importância vital que teve e não é um parceiro económico significativo", ainda assim é importante, sendo um interveniente crucial no mercado de diamantes angolano e Angola é o quarto maior cliente de armas russas.
"A visita, em janeiro, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, a Luanda, a comissão interministerial conjunta de abril em Luanda, e a provável participação de Lourenço na cimeira Rússia-África, em julho, em São Petersburgo, são sinais de que Luanda continua comprometida em manter boas relações com Moscovo", concluiu a analista em declarações à Lusa.
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