ONG defende investigação imparcial a massacre no Burkina Faso

A organização Amnistia Internacional afirmou hoje que as autoridades do Burkina Faso devem lançar uma "investigação imparcial e independente" ao massacre de 150 civis em 20 de abril na cidade de Karma, pelo qual os habitantes responsabilizam o exército.

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©  Lassana Bary/Twitter

Lusa
04/05/2023 12:15 ‧ 04/05/2023 por Lusa

Mundo

Burkina Faso

"Mais uma vez, o exército foi considerado responsável por estes ataques e assassínios deliberados contra civis. Estes ataques contra civis devem cessar imediatamente", declarou Samira Daoud, diretora para a África Ocidental e Central da organização não-governamental (ONG), num comunicado.

Homens armados vestidos com uniformes militares do Burkina Faso atacaram Karma por volta das 07:30 locais (08:30 em Lisboa) de 20 de abril e cercaram os residentes, que pensaram tratar-se de uma patrulha regular do exército.

As vítimas deslocadas pela violência afirmaram num comunicado, dias mais tarde, que vários grupos de aldeões "foram executados no local" e que os feridos que tentaram fugir "foram perseguidos e mortos", antes de os alegados "soldados" abandonarem a aldeia por volta das 14:00 locais.

Numa conferência de imprensa realizada no sábado, os habitantes de Karma estimaram o número de mortos em 147, dos quais 45 crianças, segundo a Amnistia Internacional, depois de a organização burquinabê Coletivo contra a Impunidade e a Estigmatização das Comunidades (CISC) ter indicado um número provisório de 136 mortos na sexta-feira.

Por seu lado, o Gabinete dos Direitos do Homem das Nações Unidas estima o número de mortos em pelo menos 150.

Após ter entrevistado vários sobreviventes, a ONG de defesa dos direitos humanos apontou o dedo ao Terceiro Batalhão da Brigada de Intervenção Rápida do exército, cujos membros terão acusado a população de não denunciar os grupos terroristas armados que atuam na zona.

Na semana passada, o Governo burquinabê condenou o assassínio e declarou que tinha sido aberto um inquérito judicial.

"De acordo com o direito internacional humanitário, todas as partes num conflito armado devem distinguir sistematicamente entre civis e combatentes e estão proibidas de efetuar ataques a civis e execuções extrajudiciais", declarou a ONG, sublinhando que tais atos podem constituir crimes de guerra.

O Burkina Faso tem sido alvo de frequentes ataques terroristas desde abril de 2015, perpetrados por grupos ligados tanto à Al-Qaida como ao extremista Estado Islâmico, sobretudo no norte do país.

O país sofreu igualmente dois golpes de Estado em 2022, em 24 de janeiro, liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, e outro em 30 de setembro.

As duas tomadas de poder pelos militares ocorreram na sequência do descontentamento da população e do exército face aos ataques terroristas, que obrigaram à deslocação de quase dois milhões de pessoas, segundo os mais recentes dados governamentais.

Leia Também: Imprensa apela às juntas no Mali e Burkina Faso que protejam jornalistas

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